Título: Varejo defende o vinho argentino
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2005, Economia, p. B7

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) pronunciou-se neste fim de semana a favor da livre entrada de vinhos argentinos no Brasil, opondo-se aos pedidos dos produtores brasileiros, que pedem proteção contra o vinho da Argentina. O anúncio foi feito por João Carlos Oliveira, presidente da Abras, durante uma rodada de negociações de representantes de supermercados brasileiros com empresários do setor vinícola argentino na cidade de Mendoza, o principal pólo de adegas do país. "Seria lamentável se fossem impostas restrições aos vinhos argentinos, porque os proprietários de supermercados do Brasil vendem milhares de produtos diferentes e querem liberdade para comprá-los", afirmou Oliveira. Segundo ele, sua intenção é "realizar operações de importância neste setor, já que os preços dos vinhos argentinos são muito competitivos".

Oliveira referia-se aos pedidos de vinícolas brasileiras - intensificados nas últimas semanas - para reduzir significativamente a entrada de vinhos argentinos no mercado local, já que esse produto estaria prejudicando a indústria nacional.

O gerente da União Vinícola Argentina (UVA), Sergio Villanueva, sustentou que "os vinhos argentinos são mais acessíveis que os brasileiros pela qualidade e preço". Villanueva afirma que por trás dos pedidos protecionistas brasileiros também estão os importadores de vinhos "que perdem lucratividade porque vendem vinhos europeus mais caros, mas de igual qualidade" dos argentinos.

Hermes Zaneti, diretor superintendente da Cooperativa Vinícola Aurora (RS), reuniu-se com os argentinos para pedir que limitem suas exportações ao Brasil, principalmente de vinho de baixa qualidade, que tem preços baixos.

As vendas de vinhos argentinos ao mercado brasileiro passaram de 600 mil litros em 1996 para 11,2 milhões de litros em 2004. A previsão para 2005 é de 21 milhões de litros. Atualmente, 17% do consumo brasileiro de vinho é abastecido pela Argentina. A invasão argentina coloca em risco a sobrevivência de milhares de famílias envolvidas com a produção vinícola no Rio Grande do Sul.

Os brasileiros propõem limitar a entrada dos vinhos argentinos com preços de US$ 15 a US$ 40 (por caixa de 12 garrafas de 750 ml cada uma) a um teto de 6 milhões de litros. Os vinhos abaixo de US$ 15 não entrariam. Acima de US$ 40, a entrada seria livre. Os argentinos resistem à proposta, já que 76% das vendas de seus vinhos ao Brasil têm preço inferior a US$ 2.