Título: BC aponta para nova alta do juro
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Economia, p. B1

BRASÍLIA - A alta da inflação em abril, que surpreendeu o mercado e o governo, foi o principal argumento do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) para justificar mais uma alta nos juros este mês, quando se esperava o final do ciclo de elevações da taxa Selic. Na ata da última reunião do comitê, divulgada ontem, os diretores do BC argumentam que aumentaram, no curto prazo, os riscos para que o IPCA, índice referência para o sistema de metas, convirja para trajetória desejada pelo banco. Com esse cenário, não descartam novas altas. "A manutenção de riscos elevados para a inflação de curto prazo tende a aumentar a incerteza em relação ao comportamento futuro da inflação, dificultando tanto a avaliação de cenários por parte da autoridade monetária, quanto o processo de coordenação de expectativas dos agentes privados", destaca o documento. "Cabe à política monetária manter-se vigilante para evitar que pressões detectadas em horizontes mais curtos se propaguem para horizontes mais longos", conclui.

A mudança no discurso do BC, que tradicionalmente enfatiza mais o comportamento futuro da inflação do que os desdobramentos no curto prazo, deixou os analistas de mercados sem saber qual é realmente o diagnóstico do Copom em relação à inflação. "A ata tenta mostrar um cenário positivo para inflação no médio prazo, mas quando é para traduzir isso em manutenção da taxa de juros, o Copom não o faz e enfatiza exageradamente o curto prazo", destaca a economista-chefe do HSBC, Zeina Latif. "Com o nível de juros real que temos, é difícil entender a insegurança e a falta de paciência do BC para esperar os resultados da política monetária", completa. Na ata, os próprios diretores ressaltam que as últimas elevações de juros ainda não surtiram efeito integralmente. E afirmam, em outro trecho, que "a atividade econômica continua em expansão, mas a um ritmo menor e mais condizente com as condições de oferta".

Segundo Latif, a alta do IPCA em abril refletiu, em parte, a pressão nos preços do atacado registrada em março, já que há uma defasagem para esses reajustes impactarem os preços ao consumidor. Agora, os índices no atacado já indicam queda da inflação. No entanto, para o Copom, a confirmação desse cenário que ajudará a derrubar a inflação vai depender do ritmo de crescimento da demanda por bens e serviços e ainda das expectativas dos empresários e investidores em relação ao desempenho futuro da inflação.

"Eles tinham de justificar, de alguma forma, por que elevaram juros quando tudo sugeria manutenção", diz o diretor de um dos maiores bancos de varejo do País.

Os diretores mostraram ainda desconforto em relação ao comportamento de alguns setores da indústria. Para eles, o fato de segmentos mais sensíveis à renda, como os de bens semi e não duráveis, estarem perdendo força enquanto os mais dependentes de crédito (bens duráveis) se mantêm elevados, não é normal para a fase de crescimento da economia que o País vive.

No cenário externo, a grande incógnita continua a ser política de juros nos Estados Unidos. Mas os diretores do BC apostam que não deverá haver alterações bruscas nessa área. Outra incerteza é com relação ao preço do petróleo no mercado internacional.