Título: O Copom mantem a dureza
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Economia, p. B2

A ata da reunião do Copom realizada dia 18, quando os juros subiram mais 0,25 ponto porcentual para 19,75%, foi coerente com o que os diretores do Banco Central vinham dizendo e foi particularmente dura no diagnóstico da inflação. O lado bom foi o reconhecimento de que a turbulência externa, apontada como motivo para altas anteriores de juros, vai sendo contida. O índice de risco Brasil está menos volátil; o comércio exterior continua exibindo excelentes resultados, o que diminui a vulnerabilidade externa da economia; embora os mercados financeiros permaneçam instáveis, as crises já não têm tanta intensidade; e os preços internacionais do petróleo estão em queda. Mas essa nítida melhora externa, aponta a ata, não está ajudando a conter o inimigo.

Lá ficou dito que a inflação de abril, de 0,87%, permaneceu alta demais e que seu núcleo mostrou aceleração "em todos os critérios acompanhados pelo Copom". Ficou dito, também, que "aumentaram os riscos a que está submetido o processo de convergência da inflação para a trajetória de metas". Isso significa que o Banco Central está identificando mais pressões inflacionárias que têm a ver com um aumento da procura por mercadorias e serviços não acompanhado por aumento proporcional da oferta.

Está reconhecido que a atividade econômica está em desaceleração, mas o Banco Central adverte que sua missão não é aliviar nos juros se as fábricas estiverem despejando menos mercadorias na praça, mas atacar a inflação de modo a enquadrá-la dentro da meta.

Se é assim, não dá para ignorar certa desproporção entre o diagnóstico implacável e a ação relativamente branda.Quem está sendo atacado por uma infecção grave, como está cruamente enfatizado na ata, não pode ficar tomando melhoral. Em apenas quatro meses, a inflação do ano já está acumulada em 2,68% e, além disso, dá sinais de que está se intensificando. Se é mesmo para cumprir a meta de inflação de 5,1%, um aumento dos juros de apenas 0,25 ponto porcentual, como decidido na última reunião, não parece suficiente para dar conta do recado.

Isso sugere que as autoridades monetárias ou desistiram ou não quiseram reforçar a dose dos juros. A esta altura, a hipótese mais provável é a de que já estejam trabalhando com uma meta de inflação mais alta, talvez mais próxima dos 6,4%, que é o número que está na cabeça dos agentes econômicos e formadores de preços, como mostra a pesquisa Focus do Banco Central.

Mas ninguém conclua apressadamente que, se a meta já foi pro saco, o Copom esteja finalmente disposto a alivar sua política. O texto adverte que, se for necessário, pode não só aumentar os juros, mas, também, aumentar o ritmo do aperto. Para bom entendedor, isso mostra disposição do Banco Central em continuar no ataque.

De qualquer maneira, o Banco Central vai obsessivamente operando uma política que retira dinheiro da economia e, por isso, virou tábua de tiro ao alvo de empresários e analistas.

Por coerência, todo o governo deveria adotar uma política restritiva até que a inflação entregasse os pontos. O presidente Lula não insiste em que fará de tudo para conseguir esse objetivo? No entanto a política de gastos (política fiscal) está trabalhando na contra mão do Banco Central: segue despejando cada vez mais dinheiro na economia. Tudo se passa como se o Banco Central continuasse enxugando com balde, rodinho e pano de chão enquanto o governo federal mantém aberta a torneira que inunda o banheiro.