Título: Reação é botar a barba de molho
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Economia, p. B3

A possibilidade de novas altas no juro básico, sugerida na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), já preocupa os empresários. Se confirmada, isso comprometeria não só o crescimento da economia este ano como em 2006, já que muitos investimentos estão sendo engavetados ou adiados ante a perspectiva de uma queda no consumo. "Se o próprio Copom admite desaceleração no ritmo de crescimento, como pode sinalizar novos aumentos dos juros?", indaga o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Para ele, o governo parece ser o único a não saber que os juros altos são um dos motivos de o Brasil crescer menos do que outros países com economia semelhante. Skaf se baseia em estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) , segundo o qual a economia mundial deve crescer 19% entre 2003 e 2006. Nesse contexto, os países emergentes teriam expansão de 28,52%. E o Brasil cresceria apenas 13,48%.

"A teimosia dos juros é um dos sete pecados capitais da política econômica do governo", diz o presidente da Fiesp. Entre os outros pecados, Skaf aponta a falta de controle dos gastos públicos, definir meta de inflação irreal e lançar mau humor e pessimismo na sociedade.

"A alta continuada dos juros espanta qualquer um", observa Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). "A reação tanto dos produtores como dos consumidores é botar a barba de molho, já que a sensação é de que a situação está ruim e vai piorar."

Nesse cenário, as decisões de investimento são as primeiras a serem adiadas pelas empresas. "O investimento se relaciona com endividamento e a experiência mostra que é preciso cautela, principalmente quando o tapete é puxado", diz Tabacof.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) , a continuidade da política de alta dos juros seria catastrófica. "Achamos que depois de 9 meses de elevação, seria prudente esperar o resultado dessas medidas, já que há uma defasagem entre o aperto monetário e o impacto efetivo sobre a atividade econômica", diz Flávio Castelo Branco, coordenador de Política Econômica da CNI.

Além disso, Castelo Branco ressalta que boa parte do processo inflacionário não responde diretamente à elevação dos juros, como é o caso dos contratos corrigidos automaticamente pela inflação passada e a própria demanda pública. "Seria mais coerente se política econômica estabelecesse um controle dos gastos do governo como um instrumento de combate à inflação."

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida, diz que a ata do Copom evidencia o abismo que separa a visão do Banco Central (BC) e a dos empresário em relação à economia. "A ata diz que a atividade econômica continua em expansão relativamente desacelerada, o que seria bom. Nós achamos que a atividade está estagnada, o que é péssimo para o País."