Título: Onde usar o relógio de bolso?
Autor: João Caminoto e Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Economia, p. B4

TÓQUIO - "Põe onde? No pescoço?" Essa foi a reação do presidente Lula ao receber um relógio de bolso do presidente do Metrô de Tóquio, Sugiyama Keniche. Dona Marisa apressou-se em auxiliá-lo e tentou guardar o presente no bolso do paletó, ao lado da lapela. Sem falar português, Keniche apontou para o passador de cinto, no cós das calças, para mostrar onde pendurar o relógio de bolso, até hoje um instrumento de trabalho dos condutores dos trens. Lula foi ontem à estação de Metrô Shimbashi ver um painel de 200 metros totalmente decorado com fotos de pontos turísticos do Brasil. Esse foi um dos momentos de maior descontração num dia agitado para o presidente e comitiva. Antes de ir ao Metrô, Lula havia almoçado com o imperador Akihito e a imperatriz Michiko. Na chegada ao Palácio, quase deixa dona Marisa no carro. Mas foi no passeio ao Metrô que o presidente mais se divertiu: conversou com funcionários, deixou-se fotografar, cumprimentou populares, distribuiu autógrafos.

As fotos de divulgação do Brasil na estação Shimbashi, onde passam 20 mil pessoas por dia, foi uma iniciativa da embaixada brasileira. A propaganda, a um custo estimado de US$ 80 mil por mês, saiu de graça para os cofres públicos. Deslumbrado, Lula foi identificando os lugares e, ao final, disparou: "Eu iria de Metrô para o Brasil, se eu fosse japonês. Acho que o Brasil tem de fazer isso em todos os países do mundo", afirmou. "Estou orgulhoso. Se eu pudesse, passava o dia no Metrô vendo essas coisas bonitas".

Bem humorado, Lula aconselhou uma cicerone do Metrô a pedir ao namorado que a leve ao Brasil na lua-de-mel. Por fim, sem se dar conta do esforço da embaixada em não divulgar fotos que mostram o Brasil como o país das mulheres de biquíni, do futebol e do carnaval, Lula perguntou a um guarda se conhecia os Lençóis Maranhenses. Ao ouvir a resposta negativa, emendou que "além de bonito, ainda tem as mulheres".

O presidente encerrou o passeio cumprimentando pessoas na saída da estação, como uma celebridade. Por fim, lembrou-se que faltara uma foto: a dele próprio pescando um peixe de 40 quilos.

ESQUECERAM DE MIM

Ao chegar ao Palácio Imperial, dona Marisa passou por um pequeno apuro, ao ver que ninguém lhe abrira a porta do carro. Lula já havia saído e a primeira-dama fez sinais para o chofer, que estava do lado de fora. Por fim, quem a socorreu foi o coronel Gonçalves Dias, chefe da segurança da Presidência. Foi quase uma repetição da cena ocorrida em julho de 2003 quando, em visita aos reis da Espanha, Marisa foi "esquecida" no carro e resgatada pelo rei Juan Carlos.

O casal foi recebido na entrada pelo imperador Akihito e pela imperatriz Michiko e conduzido a um salão voltado para um jardim.