Título: Japoneses só investem com mais estabilidade
Autor: Denise Chrispim Marin e João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Economia, p. B5

Treze contratos, no valor de US$ 2,1 bilhões, foram assinados na passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Japão. Houve, ainda, várias promessas de cooperação futura, seja no início da importação do etanol, seja na participação japonesa nas Parcerias Público-Privadas (PPPs). No entanto, os nipônicos mandaram um recado claro: para retomar o vigor do relacionamento entre os dois países, como o que houve nos anos 70, é preciso mais. "O Brasil avançou muito na sua estrutura macroeconômica, mas ainda há muito a ser melhorado através de reformas microeconômicas", afirmou o vice-presidente e diretor-gerente do Japan Bank for International Cooperation (JBIC), Yoshihiko Morita.

O pedido por maior estabilidade nas regras do jogo tem sua raiz na moratória brasileira do final dos anos 80. Ela foi um divisor de águas na relação entre os dois países. Depois dela, o fluxo de financiamentos japoneses para o Brasil minguou. A desconfiança, aliada às dificuldades econômicas enfrentadas pelos dois países no final dos anos 80 e nos anos 90, impediram uma retomada das relações econômicas.

Os contratos assinados são, na maior parte, memorandos de entendimento. Ou seja, são negócios a ser concretizados no futuro. É o caso do contrato sobre a estruturação financeira do projeto de modernização da Refinaria Vale do Paraíba, que envolverá US$ 900 milhões, entre a Petrobrás, JBIC, Sumitomo Mitsui Banking Corporation (SMBC) e as empresas Mitsui, Itochu e Nexi.

Outro contrato de valor elevado é um acordo de cooperação entre uma fabricante brasileira de tubulações para petróleo e gás, a Etesco, e a Mitsubishi Corporation, orientado para serviços em plataformas continentais. Envolverá, no futuro, US$ 400 milhões.

Além disso, a Petrobrás assinou um memorando para reforçar a cooperação com o JBIC, a respeito de um pacote de financiamento com o SMBC e o grupo Nexi e um outro memorando de cooperação nos estudos logísticos para a exportação de etanol brasileiro ao Japão, entre a Vale do Rio Doce e o grupo Mitsui.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) obteve empréstimo de US$ 500 milhões do JBIC, para financiamento de US$ 500 milhões para obras de infra-estrutura no Brasil e indústrias voltadas para a exportação. Também foram assinados contratos na área de meio ambiente, financiamento de comércio exterior e exportação de software, entre outros.

Apesar dos bilhões de dólares envolvidos, as empresas que obtiveram empréstimos refletem, de certa forma, a desconfiança japonesa no Brasil. Os nipônicos concentraram seus esforços na Petrobrás e na Vale, cujos produtos, petróleo e minério de ferro, seguem cotações internacionais. São, segundo um interlocutor do lado japonês, produtos menos afetados por decisões equivocadas na política econômica.