Título: Uma história de abandonos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Nacional, p. A12

Diante das dificuldades, muitos deixaram tudo para trás

Os fazendeiros órfãos da BR-319 agora se preocupam com as invasões de grileiros, atraídos pelo anúncio da recuperação da estrada. Investiram pesado em gado e fazendas ao longo da estrada que, nos últimos 15 anos, ou abandonaram totalmente ou esqueceram por períodos longos seus terrenos, por conta da impossibilidade de manutenção com as péssimas condições da estrada.

"Tinha uma área em sociedade na altura do quilômetro 180, mas vendi a preço de banana", conta o comerciante José da Silva Printes.

O comerciante diz que amigos fazendeiros, por volta de 1995, quando já não havia a menor esperança de a estrada ser restaurada, até abandonaram o gado que tinham. "Os bichos, coitados, morreram à míngua ou foram comidos por quem arriscou ficar."

Dono de pelo menos 27 mil hectares divididos em três fazendas, Augusto Zigart Filho lembra o dia em que trouxe a pé o gado que tinha na mais distante das fazendas, a do quilômetro320. "Não tinha a menor condição de entrar caminhões, então foi necessário trazer a pé."

Augusto Zigart conta que está ensaiando uma ida à fazenda do quilômetro 320, onde há um caseiro. "Parece que tem grileiro entrando na minha área. Não sei como vou lidar com isso, não há segurança para aquelas bandas", diz.

Dono de uma fazenda na altura do quilômetro 90, Mauro Almeida Prado torce pela retirada dos grileiros e para ser "séria" a intenção do governo em recuperar a estrada.

"Acredito que só a estrada poderia reavivar a Zona Franca de Manaus e tirar o transporte da mão do cartel dos balseiros da região", defende o fazendeiro.