Título: Resultado abala UE nas negociações internacionais
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Internacional, p. A13

Negociadores dos principais parceiros comerciais da União Européia, entre eles os brasileiros, receberam a notícia da vitória do não no referendo francês sobre a Constituição européia com preocupação e como um sinal negativo para o futuro da UE nas negociações internacionais. Na Organização Mundial do Comércio (OMC), diplomatas, economistas e lobistas passaram a maior parte do dia de ontem comentando informalmente as repercussões da decisão dos eleitores franceses. Para muitos, o sentimento predominante era de incerteza sobre a real capacidade da UE em flexibilizar suas políticas nas negociações internacionais. Para o embaixador Clodoaldo Hugueney, um dos principais diplomatas brasileiros em temas comerciais, a derrota do sim terá uma repercussão de "proporções substanciais" e um impacto ainda imprevisível sobre o comportamento da UE nos debates internacionais. Para representantes africanos, o perigo é ter a negociação da OMC parada até que a UE supere sua crise. Os europeus também negociam um acordo com o Mercosul, ainda que o processo esteja praticamente interrompido desde o final do ano passado diante das diferenças entre os dois grupos de países.

Já o embaixador do Brasil em Bruxelas, José Alfredo de Graça Lima, tem esperança de que o atual trabalho da Comissão Européia não seja afetado com a derrota do sim e as negociações comerciais com outros blocos continuem. Mas ele admite que o problema seria o desgaste que essa derrota teria sobre os 25 países membros. Para analistas, esse desgaste poderia traduzir-se em dificuldades na habilidade da Comissão em obter, por exemplo, novos mandatos para negociar concessões comerciais para países mais pobres. "A UE passará por um período de reflexão sobre seu futuro político", prevê Graça Lima.

Para analistas, a derrota do sim também poderia ser vista ainda como uma derrota política para o recém-escolhido diretor da OMC, o francês Pascal Lamy, que assume o cargo em setembro.