Título: 'Não' derruba primeiro-ministro
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Internacional, p. A13

A vitória do "não" no referendo francês de domingo sobre a adoção da Constituição da União Européia (UE) teve como primeira conseqüência a queda do primeiro-ministro Jean Pierre Raffarin. Ele foi o primeiro membro do governo a pagar com a cabeça a derrota nas urnas. Ele entregou a carta de demissão ao presidente Jacques Chirac que deverá aceitá-la hoje durante um pronunciamento na televisão - assim que for definido o nome de quem o substituirá no cargo.

Raffarin deixa o governo francês numa Europa em crise, longe de seu sonho de construir um bloco que pudesse equilibrar as relações internacionais com os Estados Unidos que continuam, mais do que nunca, predominando política e economicamente.

Dessa forma, Chirac cumpre a promessa feita na noite da derrota, quando prometeu dar novo impulso na ação do governo. Tradução: combater, de forma mais eficaz, o desemprego. Estão sem trabalho 10,2% da população ativa, mais de 2,5 milhões de pessoas. O alto índice de desemprego contribuiu para a rebelião nas urnas.

Enquanto Raffarin limpava as gavetas de seu gabinete, no Palácio do Eliseu, sede da presidência, ocorriam grandes manobras políticas. Várias consultas aos partidos da maioria que dá sustentação ao governo foram feitas para a formação do novo ministério.

Ontem, o presidente recebeu, separadamente, os três nomes mais cotados para chefiar do governo: o presidente do maior parto, UMP, Nicolas Sarkozy; o ministro do Interior, Dominique de Villepin; e a ministra da Defesa, Michéle Alliot Marie.

Os números da derrota fizeram com que uma possível indicação de Sarkozy ressurgisse e ganhasse espaço. Essa solução, contudo, é apontada como a mais dolorosa para Chirac, pois ele estaria nomeando para o cargo de primeiro-ministro seu maior rival, candidato declarado à presidência nas eleições de 2007. Para não ter de optar entre Sarkozy e Villepin, surge a possibilidade da candidatura de Michéle Alliot Marie, ministra da Defesa, igualmente convocada ontem pelo presidente. Villepin continua no páreo. Ele é um nome mais compatível com a personalidade de Jacques Chirac.

O Partido Socialista sai profundamente dividido e as cicatrizes abertas durante a campanha vão demorar muito para serem cicatrizadas. O PS apoiou o sim apesar da oposição de muitos de seus membros, entre os quais Laurent Fabius, que fez campanha pelo não. O primeiro-secretário, François Holande, reafirmou que vai permanecer no cargo. "Não vou entregar a secretaria aos que dividiram o partido", assegurou ele.