Título: A questão central no debate: o embrião é vida?
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Vida &, p. A16

POLÊMICA ÉTICA: Onde começa a vida? Na resposta a essa pergunta está o principal foco de discórdia com relação às pesquisas com células-tronco embrionárias. "O embrião humano é um ser humano; não há dúvida sobre isso", defende a pesquisadora Alice Teixeira Ferreira, professora de biofísica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O embrião, segundo Alice, "é a primeira fase de desenvolvimento do ser humano, que se inicia na concepção" - ou seja, na fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Ela argumenta que as células-tronco adultas, presentes em vários tecidos do organismo, são suficientes para suprir as necessidades de pesquisa, sem que seja preciso destruir embriões. As células-tronco embrionárias são extraídas do embrião cinco ou seis dias após a fecundação, quando ele ainda está num estágio chamado blastocisto. Elas são as matrizes das quais se originam todos os tecidos do organismo e muitos cientistas esperam explorar essa versatilidade para o tratamento de doenças e a regeneração de tecidos lesionados - a partir de embriões congelados ou clonados.

Segundo a pesquisadora Lygia Pereira, da Universidade de São Paulo (USP), não há definição científica oficial sobre onde começa a vida - se é na concepção, na implantação do embrião ou a partir da formação do sistema nervoso, por exemplo. "A questão não é se o blastocisto é vida ou não, mas se a sociedade vai tolerar que se interfira nesse blastocisto." Ela questiona também a alegação de que as células-tronco adultas seriam mais promissoras que as embrionárias. "Isso não justifica a proibição de uma linha de pesquisa", diz. "Cada uma tem vantagens e desvantagens."