Título: Queda de preços agrícolas leva IGP-M a deflação de 0,22%
Autor: Alessandra Saraiva, Francisco Carlos de Assis
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Economia, p. B3

A queda de preços no atacado, principalmente dos produtos agrícolas (3,42%), levou o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) de maio à deflação de 0,22%, ante alta de 0,86% em abril, menor resultado em quase dois anos. O recuo foi mais forte do que esperava o mercado financeiro, que apostava numa queda entre 0,04% e 0,08%. O coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, preferiu brincar: "A inflação não está com céu de brigadeiro, parece mais um submarino (por apresentar queda). É mais um mar de almirante."

Para a analista da consultoria Tendências Marcela Prada, porém, o fato de o IGP-M ter ficado abaixo das projeções é explicado pelo fato de o Índice Nacional do Custo da Construção não de ter captado o dissídio de mão-de-obra da construção civil em São Paulo. "Desse modo, o resultado (do IGP-M) não trouxe novidade positiva."

A FGV divulgou ontem o indicador, cujo período de coleta foi de 21 de abril a 20 de maio. Quadros explicou que o recuo dos preços agrícolas, o maior em seis anos, ajudou a puxar para baixo o Índice de Preços por Atacado (IPA), que tem maior peso no IGP-M e caiu 0,77% em maio, ante alta de 0,96% em abril, a menor taxa em 23 meses. "Podemos dizer que esse IGP-M de maio marcou o fim da influência do atacado na inflação, especialmente dos problemas climáticos do início do ano, como a estiagem no Sul."

A inflação no atacado também foi beneficiada pela baixa cotação do petróleo e pela apreciação do real, que provocou quedas nos preços de combustíveis e lubrificantes (0,38%) e ferro, aço e derivados (0,55%).

Sem fazer previsões, Quadros avaliou que, a inflação medida pelos IGPs deverá aparecer "bem comportada", nos próximos meses. "Até o momento, não temos motivos para esperar impactos fortes (na inflação)", disse, não descartando ainda que o IGP-M de 2005 feche abaixo de 10%.

Mas as quedas no atacado ainda não foram sentidas no varejo, pelo contrário: o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) passou de 0,80% em abril para 1,02% em maio - a maior taxa em 25 meses. O resultado mostra que a inflação do varejo ainda está pressionada por reajustes antigos em preços administrados e pelo repasse tardio dos problemas climáticos que elevaram os preços dos agrícolas.

Porém Quadros avaliou que a tendência dos IPCs a médio prazo é de redução, por causa da atual queda de preços no atacado. "Creio que em torno de dois meses ocorrerá o repasse da recente queda de preços no atacado para o varejo. Não creio que vá demorar mais do que isso."

Quadros identificou, de abril para maio, uma queda de preços no segmento de bens duráveis no atacado (de alta de 0,04% para queda de 0,33%), que pode ser reflexo dos juros altos. Os preços estariam caindo para atrair o consumidor.