Título: Alta da Selic pode inibir crescimento, diz Mantega
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Economia, p. B4

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, disse ontem que, se os juros continuarem subindo, comprometerão um crescimento "mais robusto" do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005. Segundo ele, taxas elevadas podem interromper o avanço dos investimentos. Apesar do alerta, Mantega disse que o governo busca o crescimento sem inflação e manteve a estimativa de alta do PIB de 4% este ano. "Se você elevar muito a taxa de juros, em algum momento ela vai desestimular o investimento e todo um ciclo virtuoso que já se criou e tem estimulado investimento pode ser interrompido." Ele avalia, contudo, que isso não ocorrerá. "Acredito que já estamos chegando ao nível mais alto da taxa de juro do País", afirmou, depois de participar de evento na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) sobre as Parcerias Público-Privadas (PPPs).

Para Mantega, economia e investimento estão crescendo. "Mas a partir de certo patamar a taxa de juro tende a reduzir o nível de investimento. Nossa preocupação é que ela não passe desse patamar", afirmou. Ele espera, "daqui para a frente", que as taxas possam cair, levando-se em conta que a meta de inflação pode ser alcançada.

Na semana passada, Mantega já havia abordado a questão dos juros em evento no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Mas deu mais ênfase ontem ao assunto. Com estilo mais cuidadoso que o do polêmico antecessor Carlos Lessa, Mantega disse o governo busca um crescimento sustentável, sem inflação.

"Não adianta ter crescimento acompanhado de inflação, pois ele terá de ser abortado logo adiante." Na avaliação de Mantega, a economia apresenta dinamismo em vários setores. "O setor externo vai muito bem." Presente ao mesmo evento, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse acreditar que o PIB pode crescer mais de 4% este ano: "Acho que temos tudo para repetir (a taxa do ano passado, de 5,2%) e crescer 5% ou pelo menos mais do que 4%."