Título: Indústria de matérias-primas investirá R$ 67,21 bi até 2011
Autor: Irany Tereza, Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Economia, p. B5

Com produção sufocada no limite da capacidade, a indústria de insumos planeja investir R$ 67,217 bilhões até 2011. A maior concentração de recursos está prevista para 2007, quando as últimas levas de projetos começarem a sair do papel e as primeiras estiverem ainda em fase de conclusão. São ampliações ou criação de novas plantas para fabricação de aço, plástico, papel e papelão, cimento, minério, fertilizantes e outros produtos que formam a base da cadeia industrial e ocupam também lugar de destaque na pauta de exportações nacional. A cifra é a soma dos projetos aprovados ou em análise no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que avalia a possibilidade de financiar quase a metade dos recursos totais (R$ 31,424 bilhões). "O potencial de realização desses projetos é muito elevado. São setores muito intensivos em capital e que estão batendo na capacidade, não têm outra alternativa: se não investirem, esses produtos terão de ser importados", diz o superintendente da Área de Insumos Básicos do banco, Wagner Bitencourt. Segundo ele, o BNDES trabalha com um índice de não realização residual, que não chega a 5%.

As siderúrgicas fazem parte do topo da lista de investimentos. Com nível médio de utilização de 97% da capacidade total, e produção de 34 milhões de toneladas por ano, a indústria produtora de aço tem um pacote de investimentos de US$ 12,8 bilhões até 2010. Vice-presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes conta que o objetivo é aumentar a produção do setor para 46,3 milhões de toneladas anuais.

Cerca de 60% da produção das siderúrgicas atende à demanda doméstica e os 40% restantes vão para o mercado externo. Lopes discorda que o setor tenha atingido o limite da capacidade só por causa do aquecimento do mercado. Segundo ele, as usinas trabalham no limite porque são investimentos de capital intensivo. "É por isso que temos um grau de utilização muito alto."

Bitencourt, do BNDES, disse que foi criado um departamento no banco específico para analisar os projetos de insumos para tentar acelerar a tramitação dos pedidos, mas garante que não haverá tratamento diferenciado nos financiamentos. "Não haverá nenhum subsídio. A intenção foi somente a de dar um foco no setor", disse, explicando que a criação do sistema de financiamento semi-automático para projetos continuados de empresas clientes antigas do BNDES vai liberar a equipe técnica para tratar dessas grandes operações.

VERBA DUPLICADA

O orçamento do banco fechado este ano para projetos industriais de insumos, de R$ 3,7 bilhões, é mais do que o dobro da verba liberada no ano passado, de R$ 1,7 bilhão. Os investimentos do setor variam de R$ 300 milhões a R$ 5 bilhões. E a aplicação dos recursos costuma seguir a mesma distribuição: 20% no primeiro ano, 25% no segundo, 30% no terceiro e os restantes 25% no quarto ano.

O segmento de celulose e papel, que trabalha com 95% da capacidade instalada, iniciou um programa de investimentos para desembolsar US$ 14,4 bilhões até 2012. Nos últimos 10 anos, foram aplicados US$ 12 bilhões para esse fim, lembra o presidente do conselho da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Boris Tabacof.

O executivo lembra que, em até dois meses, deve ser inaugurada a nova fábrica de celulose da Veracel, em Eunápolis, sul da Bahia, um investimento de US$ 1,2 bilhão. O projeto, segundo Tabacof, vai agregar 1 milhão de toneladas anuais de celulose à produção brasileira, hoje de 9,5 milhões de toneladas por ano. "O setor vem investindo muito. E vai continuar", afirma.