Título: Para Hugueney, diálogo é o melhor caminho
Autor: Paulo Vicentini
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Economia, p. B6

Um dos principais negociadores do Brasil para assuntos relacionados ao comércio internacional, o embaixador Clodoaldo Hugueney, acha necessário um "diálogo" com a China antes de qualquer decisão sobre a imposição final de sobretaxas sobre os produtos têxteis vindos de Pequim. Há uma semana, o Brasil regulamentou a lei que permite o uso de salvaguardas contra produtos chineses, o primeiro passo para o estabelecimento de novas barreiras caso o setor privado e o governo optem por tal medida.

A iniciativa provocou preocupação entre os chineses. O embaixador de Pequim nos organismos internacionais, Sha Zukang, chegou a alertar que a imposição de barreiras pelo Brasil seria uma "punhalada pelas costas".

Conciliador, Hugueney prefere falar em consultas e diálogo com Pequim. "Mesmo se a decisão for de impor salvaguardas, o primeiro passo é sempre o diálogo", afirmou o diplomata.

INVESTIGAÇÕES

No dia 1.º de janeiro deste ano, as cotas para o comércio de produtos têxteis foram retirados por um acordo concluído há 10 anos. Como esperado, os chineses passaram a aumentar sua participação nos mercados e os produtores europeus, americanos e de outros países se queixam de prejuízos milionários.

Vários governos, como o da Europa e Estados Unidos, já iniciaram investigações para a imposição de novas barreiras contra os chineses.

PRESSÕES

No Brasil, o setor privado vem pressionando o governo por ações para limitar as importações vindas da China. Reconhecendo que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) está "preocupada" com a situação, Hugueney aponta que ainda são poucos os produtos chineses que tem aumentado seu fluxo de importação para o mercado brasileiro.

Ele lembra que, mesmo entre os que sofreram incrementos de comércio, muitos são insumos para a produção brasileira, como os fios sintéticos.

A preocupação do Brasil em manter o diálogo com a China é um reflexo da situação delicada e, de certa forma, única que vive o Brasil entre os principais personagens da Organização Mundial do Comércio (OMC).

FUTURO

Enquanto sofre pressão doméstica por parte do setor privado, o Brasil apóia Pequim contra a pressão de vários governos que querem que a questão do comércio de têxteis volte a ser tratado na OMC com um eventual mecanismo de monitoramento das exportações chinesas.

O Brasil, de certa forma, se vê na posição da China no futuro. Brasília estima que poderá também ganhar mercados com o final das barreiras no setor agrícola e, assim como a China no caso dos têxteis, não irá aceitar novas barreiras impostas pelos países menos competitivos.