Título: Câmbio pode fechar o maior curtume do mundo
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2005, Economia, p. B7

A queda do dólar está levando ao desaparecimento de um gigante da exportação brasileira. É o Curtume Vitapelli, um dos três maiores exportadores de couro do País e o maior curtume do mundo instalado numa única planta industrial. A empresa, cujo faturamento em 2004 atingiu US$ 106 milhões em vendas para o exterior, não resistiu às flutuações cambiais e foi obrigada a paralisar turnos de produção e a dar férias coletivas a 40% dos 2,2 mil funcionários. Mas nem tudo está perdido ainda. "É uma medida para evitar demissões, na esperança de que alguma coisa mude na economia e possamos adaptar os custos de produção ao valor atual do dólar", diz o diretor-presidente do curtume, Nilson Riga Vitale.

Parte dos trabalhadores entrou em férias em 10 de maio; outra parte entra em 10 de junho. Mas, se até julho o panorama não melhorar, a empresa poderá optar pelas dispensas. Aí, sim, será a lona: "Chegamos num ponto em que esperar mais será um suicídio", afirma Vitale.

Instalado em 60 mil metros quadrados de área construída, em Presidente Prudente, interior de São Paulo, o Vitapelli fez a lição de casa no ano passado: aumentou as exportações em 40% e investiu US$ 6 milhões na compra de maquinário para fabricar couros acabados e semi-acabados para agregar valor, o que necessitou de um incremento de 30% na mão-de-obra.

De 2 milhões de peças exportadas em 2003, a empresa saltou para 3,2 milhões em 2004, dos quais 80% de couro semi-acabado e 10% de couro acabado, o que rendeu US$ 106 milhões de vendas para EUA, Europa (principalmente Itália) e Ásia (China e Coréia). A produção diária saltou de 7 mil peças para 15 mil peças/dia.

Mas como a produção é totalmente direcionada ao mercado externo, a queda do dólar atingiu a empresa em cheio. Com o real sobrevalorizado, as exportações caíram, atingindo o nível de 2003. Nos primeiros quatro meses do ano, a média de produção baixou de 15 mil peças por dia para 7,5 mil peças por dia. Além disso, os custos operacionais e a folha de pagamento, pagos em reais, ficaram 30% mais altos por causa da queda no câmbio da moeda americana, como explica Vitale: "Desativamos três turnos de produção, um à noite, um no setor de semi-acabados e outro no curtimento e vamos tentar manter os fornecedores e clientes."

Segundo Vitale, a conseqüência é um passivo financeiro de R$ 105 milhões, que a empresa espera quitar contando com a boa vontade governamental. O diretor-presidente do curtume esclarece que cerca de R$ 85 milhões em créditos de ICM, IPI e Cofins e PIS estão retidos nos governos do estado e federal. "O governo nos incentiva a exportar, mas não cumpre a Lei Kandir, que é a lei complementar 87. Além disso, é preciso reavaliar o câmbio porque a situação, se continuar neste ritmo, vai levar a indústria brasileira à derrota."