Título: Governo cria rede de laboratórios de DNA
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Metrópole, p. C4

Dotado de equipamentos de análises periciais de última geração, o primeiro laboratório regional de DNA, que será inaugurado hoje pelo governo federal em Salvador, marca uma virada na investigação policial no País e abre caminho para desafogar uma demanda histórica: a solução de homicídios esquecidos nos arquivos policiais e a identificação de ossadas, entre elas a de ativistas políticos mortos durante a ditadura, até hoje dados como desaparecidos. "A introdução do rigor técnico-científico na investigação vai romper o ciclo da impunidade e reduzir os índices de mortes violentas no País. Estamos qualificando a repressão numa ponta e, na outra, investindo na prevenção", disse o secretário nacional de Segurança do Ministério da Justiça, Luiz Fernando Corrêa.

Prova científica irrefutável, o DNA garante segurança ao inquérito policial. O laboratório também permitirá expandir outros métodos, como a análise de balística, fonética e toxicológica para formar um conjunto de perícias destinadas a transformar o padrão de investigação policial no País.

Os laboratórios regionais funcionarão como pólos na Bahia, Rio Grande do Sul, Alagoas, Amazonas e Rio. A idéia é estender o recurso a todos os Estados.

O centro gaúcho, que começou a funcionar em 2003 em caráter experimental, realiza em média 50 exames por mês, com equipamentos e métodos modernos: seqüenciador automático e o exame mitocondrial, que permitem análise até de material-padrão já degradado. O DNA pode ser retirado do sangue, saliva, pêlo, pele, dente, unha, osso, saliva, urina, impressões digitais, fio de cabelo e até de caspa. Já há casos comprovados de material-padrão achado em pontas de cigarros ou gorros de criminosos.

O aperfeiçoamento e a expansão do DNA como método científico está alimentando, no Ministério da Justiça, a idéia de criação de um banco de dados sobre pessoas desaparecidas para confrontar com milhares de ossadas ou corpos não identificados. É nesse contexto que entraria a identificação de boa parte dos cerca de 150 desaparecidos políticos.

O know-how já está se expandindo para outros países. Peritos brasileiros estão ajudando o governo do Paraguai na identificação das vítimas do incêndio no Supermercado Bala¿os, em Assunção, no ano passado, quando morreram cerca de 300 pessoas.

O governo federal gastou R$ 4,6 milhões em 2004 e este ano vai aplicar mais R$ 4 milhões para criar laboratórios em pólos regionais. Alguns deles serão tocados em conjunto com universidades federais.