Título: Assembléia tenta afastar Cassol, mas faltam votos
Autor: Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Nacional, p. A8

Falta de quorum na sessão da Assembléia Legislativa na tarde de ontem impediu que o relatório do processo de impeachment do governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), fosse votado em plenário. Ele é acusado de não repassar ao Legislativo, Judiciário e Ministério Público Estadual os porcentuais definidos na lei orçamentária e fazer remanejamentos sem autorização da Assembléia. Na sessão havia 15 deputados, quando seria preciso no mínimo 16. A Constituição Estadual exige que dois terços dos deputados estejam presentes para tratar do impeachment. Sete dos 24 foram afastados no último dia 18, depois de aparecerem no Fantástico, da Rede Globo, pedindo propina para apoiar o governo. Restaram 17 deputados, dos quais 2 não estavam ontem na Assembléia. Maurão de Carvalho (PP) está em tratamento de saúde e Edezio Martelli (PT) está em Brasília a serviço da comissão processante que investiga os parlamentares que pediram propina a Cassol.

Apesar de não ser votado, o pedido de impeachment acabou sendo um dos únicos temas discutidos na sessão, juntamente com as denúncias de pedido de propina. O deputado Leudo Buriti (PTB), que foi citado no Fantástico como um dos 12 que apoiariam Cassol em troca de R$ 50 mil por mês, disse estar claro que o governador só entregou as fitas para a TV Globo para retardar o processo de cassação. O parlamentar é o relator da matéria.

"Não pensem que Cassol filmou apenas conversas com deputados. Ele também gravou membros da Justiça, do Ministério Público e da imprensa. Cassol vai apresentar logo essas fitas ou somente quando tiver algum outro tipo de problema?", indagou Buriti, que foi o primeiro a anunciar a existência das fitas, há quase três meses.

Parlamentares de oposição também citaram que o governador é acusado de nepotismo - emprega 118 parentes -, envolvimento em contrabando de diamantes, formação de quadrilha e favorecimento a empresa de parentes e amigos em licitações.

Ao contrário do que acontecia em sessões anteriores, o deputado Neodi Oliveira (sem partido) e os tucanos Everton Leoni e Beto do Trento, da base governista, não defenderam Cassol das acusações. Os parlamentares que apóiam o governo ficaram abalados após denúncia do empreiteiro José do Carmo a uma emissora de rádio, de que precisou pagar propina a Leoni para executar obras para o governo. O deputado negou a acusação.

A Assembléia recebeu ontem nove fitas exibidas em três reportagens pelo Fantástico. Elas foram levadas a Brasília pelo deputado Edezio Martelli para serem periciadas pela Polícia Federal.

O presidente da comissão encarregada de apurar a denúncia que pede o impeachment de Cassol, deputado Nereu Klosisnki (PT), disse que é "preciso saber se as fitas foram ou não editadas pelo governador".