Título: Filme manteve força narrativa da história
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Internacional, p. A12

Hal Holbrook foi indicado ao Oscar por sua interpretação de Garganta Profunda, o informante do caso Watergate. Não venceu, mas a simples menção testemunha sua importância em Todos os Homens do Presidente, de Alan Pakula - que, aliás, também chegou a concorrer ao Oscar de melhor filme, mas acabou perdendo para Rocky, o Lutador, de Sylvester Stallone. No entanto, pode apostar que a influência social de Todos os Homens do Presidente foi enorme. O caso Watergate é de 1974. O filme saiu dois anos depois, com o affair ainda quente na memória pública. Baseado no livro escrito pelos repórteres do Washington Post Carl Berstein e Bob Woodward, o filme de Pakula deu ritmo de thriller político ao escândalo que terminou com a renúncia de Richard Nixon.

Como não poderia deixar de ser, o filme é diferente do livro. Este é o relato seco e sem firulas de um dos grandes momentos da liberdade de imprensa do século 20. Pakula sabia que tinha um excelente material na mão, mas não ignorava a diferença entre um meio e outro. Quem leu o livro sabe que é impossível deixá-lo de lado. Para manter o mesmo ritmo empolgante, Pakula romanceou um pouco. Simplificou personagens e evitou algumas implicações mais graves da invasão da sede do Partido Democrata. No todo, é fiel ao texto, e aos fatos.

Tornou a trama mais superficial? Com certeza. Mas soube manter o tônus narrativo da história. Escalou uma dupla de atores carismáticos para os papéis principais. Robert Redford fez Bob Woodward e Dustin Hoffman viveu Carl Berstein. Recriam com fervor o clima de um jornal na fase de apuração de uma notícia daquele porte, que iria mudar o destino do país. Outro personagem compõe o trio - Jason Robards, no papel de Ben Bradlee, editor do Post. São três figuras que ora colaboram ora competem, o que dá dinamismo à ação.

Mas havia outro personagem que, à sombra, fornecia o material, ou parte dele, para os repórteres que conduziam a investigação. A grande sacada de Pakula foi tomar este "à sombra" de modo literal, como convém a um meio como o cinema, que se expressa em princípio por imagens. O filme ganha muito então com o contraste entre o ambiente solar do Post e as sombras que envolvem Garganta Profunda em seus diálogos. Algo como a luz da democracia contra a escuridão que sempre a ameaça, mesmo em países livres.

Nunca é demais lembrar que o apelido da fonte de Berstein e Woodward vem do título do filme Garganta Profunda, o hardcore que, em 1972, dois anos antes da renúncia de Nixon, apresentou ao mundo o talento da pornostar Linda Lovelace.