Título: Total de fumantes cai 37% em SP
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Vida&, p. A15

O cigarro está perdendo força na maior cidade do País. Num intervalo de 14 anos, a queda no número de fumantes em São Paulo foi de 37,57% - ou 13,6 pontos porcentuais. Em 1987, 36,2% dos habitantes da capital paulista fumavam. Em 2001/2002, o índice despencou para 22,6%. Esses porcentuais são resultado de pesquisas domiciliares feitas nos dois anos pela Secretaria de Estado da Saúde com pessoas de 15 a 59 anos. O levantamento mais recente ouviu 2.103 pessoas. Em ambos os casos, considerou-se tabagista a pessoa que fuma diariamente, ainda que um único cigarro.

Os estudos mostram ainda que, apesar de o índice de tabagismo ter caído entre homens e mulheres, o problema continua sendo maior entre eles. Em 2001/2002, 25,5% dos homens de São Paulo fumavam, ante 19,8% das mulheres. Quatorze anos antes, os índices eram de 41,8% entre eles e de 30,6% entre elas.

A queda em São Paulo acompanha uma tendência nacional. Segundo especialistas, os brasileiros estão abandonando o cigarro por duas razões principais. Em primeiro lugar, pelas restrições impostas ao governo, como o fim da publicidade do tabaco e a proibição de fumar em lugares fechados. E, em segundo lugar, porque as pessoas estão tomando consciência dos males que o tabaco traz à saúde.

Reconhecido como doença, o tabagismo é a origem de outros 56 males, como câncer de pulmão, bronquite crônica, enfarte, osteoporose e até impotência sexual. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, 200 mil pessoas morrem anualmente no Brasil por causa do fumo.

"Sempre se soube que o cigarro faz mal, mas não com a intensidade que se sabe hoje. As pessoas estão recebendo a informação de maneira mais clara", diz o enfermeiro sanitarista Marco Antonio de Moraes, um dos coordenadores da pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde.

ATENÇÃO ESPECIAL

Por orientação do Ministério da Saúde, escolas, empresas e repartições públicas estão dando atenção especial ao problema. O governo de São Paulo, por exemplo, criou em 1997 o Programa Prevenir, que tem por objetivo conscientizar os servidores das secretarias estaduais dos riscos do tabagismo, do sedentarismo e da má alimentação.

De 1998 para cá, o índice de funcionários fumantes em sete secretarias caiu de 30,9% para 24,3%. Rosemeire Ceretti, de 40 anos, ajudou a diminuir o porcentual. Funcionária da Secretaria de Estado da Agricultura, ela diz que ficou preocupada ao ler num folheto do Programa Prevenir a extensa lista de doenças decorrentes do tabaco. Com sessões de acupuntura no ambulatório da secretaria para diminuir a ansiedade, Rosemeire abandonou há nove meses o vício de oito anos. "Nunca mais tive insônia. Minha vida ficou muito melhor sem o cigarro", conta.

Sinal da conscientização é o fato de a data de ontem, o Dia Mundial sem Tabaco, ter sido lembrada em todo o País. No Rio, funcionários do Instituto Nacional de Câncer (Inca) criaram um cemitério simbólico com 300 cruzes fincadas na areia da Praia de Copacabana, na zona sul, simbolizando as doenças ligadas ao cigarro. Em Brasília, manifestantes fantasiados de caveiras fizeram um protesto contra o fumo em frente do Congresso Nacional. No Recife, os passageiros do metrô receberam folhetos sobre os riscos de doenças decorrentes do cigarro.

REMÉDIO GENÉRICO

Em julho, chega às farmácias o primeiro genérico do cloridrato de bupropiona, antidepressivo que atua na mesma região do cérebro que a nicotina, diminuindo a vontade de fumar. O novo genérico é do laboratório Eurofarma e deverá custar R$ 115 (a caixa com 60 comprimidos), cerca de 30% a menos que o medicamento de referência no mercado, o Zyban (do laboratório Glaxo Wellcome).

O medicamento genérico e o de referência fazem parte da lista de "controle especial". Ou seja, uma das vias da receita médica precisa ficar retida na farmácia.