Título: Investimento tem queda de 3%
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Economia, p. B1

Os investimentos despencaram 3% no primeiro trimestre de 2005, quando comparados com o trimestre anterior, no qual já haviam recuado 3,9% no mesmo critério. "Com essa taxa de juros, no mínimo a decisão de investimento é postergada", disse Antonio Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE, em referência às altas da Selic (juro básicos) e seu efeito nas outras taxas de mercado. A Selic saiu de 16% em setembro para os atuais 19,75%. Olinto lembrou que os empresários esperam o melhor momento para investir, em termos de perspectiva da demanda e também do custo do financiamento. A gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, qualificou a desaceleração dos investimentos nos três primeiros meses de 2005 como "um absurdo", referindo-se especificamente ao desmoronamento das taxas de crescimento de um trimestre em relação ao imediatamente anterior, em termos dessazonalizados. No terceiro trimestre de 2004, o indicador cresceu 19,4%; no último trimestre, desacelerou para 9,3%; e, no primeiro de 2005, ficou em pífios 2,3%. "A diferença é muito grande", disse Rebeca.

De acordo com o diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy, levando-se em consideração os números divulgados ontem, a taxa de investimento em 2005 não deve chegar aos 20,7% do PIB anteriormente previstos (em 2004 foi de 19,6%). "A questão da taxa provavelmente vai ser afetada", ele afirmou. Levar a taxa de investimentos do Brasil para 25% do PIB é visto como essencial por muitos economistas, para garantir um crescimento ao ritmo de 5% ao ano.

O desempenho decepcionante da construção civil no primeiro trimestre de 2005 contribuiu para a drástica desaceleração dos investimentos, já que a construção é responsável por 60% daquele item. Em relação ao mesmo trimestre de 2004, a construção civil cresceu apenas 0,6%, ante uma média de 7,9% nos três trimestres anteriores.

O outro componente da taxa de investimentos, a aquisição de máquinas e equipamentos, não é discriminado na divulgação do PIB trimestral. Rebeca notou, porém, que ele deve ter seguido a tendência da indústria de transformação, que foi fraca, tendo crescido 3,6% ante o primeiro trimestre de 2004, comparado a uma média de 7,7% nos quatro trimestres anteriores.

Segundo técnicos do IBGE, os investimentos recuperaram-se em 2004, com um "boom" no terceiro trimestre. A partir daí, com o forte aperto monetário iniciado em setembro, os investimentos desaceleraram bem mais que o consumo das famílias, que seria menos afetado pelos juros altos.