Título: PIB cresce só 0,3% no trimestre e acende sinal de alerta no governo
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Economia, p. B1

A economia brasileira manteve-se em forte desaceleração no primeiro trimestre de 2005, de forma particularmente drástica nos investimentos, que garantem a sustentabilidade do crescimento no médio e longo prazo (ler abaixo). A agropecuária, único setor com resultado satisfatório, impediu que os resultados fossem piores. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou os números, também revisou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2004 de 5,2% para 4,9%. O PIB a preços de mercados cresceu apenas 0,3% no primeiro trimestre de 2005, em relação ao último trimestre de 2004 (em termos dessazonalizados). Foi o menor crescimento desde o segundo trimestre de 2003. Nos seis meses até março, a média anualizada de crescimento é de 1,4%. Na comparação com o mesmo período de 2004, o PIB no primeiro trimestre de 2005 cresceu 2,9%, a pior taxa desde o início de 2004.

Segundo a ala desenvolvimentista do governo, esse resultado acende a luz amarela e deve levar o governo a debater os efeitos da política monetária do Banco Central (ler mais na página 3).

"A desaquecida foi bastante forte. Nós já projetávamos 2,5% para 2005, e com esses números do PIB acho que isso agora será o sentido geral (das previsões)", disse Sérgio Werlang, diretor do Banco Itaú e ex-diretor do BC. Ele acha que o banco deveria ter parado de subir a taxa de juros básica (Selic, hoje em 19,75%), há dois meses, e considera que outra alta agora é inconcebível.

Uma outra má notícia para o governo é que o tão comemorado crescimento de 5,2% em 2004 foi revisado para 4,9%, por causa (segundo o IBGE) de uma correção de grandes proporções nos dados sobre a receita operacional líquida da telefonia celular, recém enviada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Com a correção, o subsetor "comunicações" saiu de um crescimento de 2% em 2004 para uma queda 1,4%, e o setor de serviços recuou de 3,7% para 3,3%. Para complicar a situação, em uma nota no final da tarde, a Anatel desmentiu o IBGE, negando que tenha revisto a receita da telefonia celular em 2004.

Para Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, "o mais importante é que está desacelerando em tudo". Quando se analisa o PIB por setores de atividade, na comparação dessazonalizada com o último trimestre de 2004, nota-se que o resultado total só foi positivo em 0,3% por causa da agropecuária, que cresceu 2,6%, puxada pela soja e arroz. A indústria caiu 1%, e os serviços, 0,2%.

Pela ótica da demanda, na mesma base de comparação, a queda foi ainda mais geral, só poupando o setor externo. O consumo das famílias recuou 0,6% (primeira queda desde o segundo trimestre de 2003), o do governo caiu 0,1%, e os investimentos encolheram 3%.

Como nota o relatório do Bradesco recém divulgado, é a primeira vez, desde o terceiro trimestre de 2001, em pleno racionamento de energia, que aqueles três componentes da demanda caem simultaneamente. O quarto componente, porém, as exportações de bens e serviços, cresceram 3,5%, e as importações (que impactam negativamente o PIB) expandiram-se 2,3%. O relatório do Bradesco observa ainda que, como os investimentos caíram mais do que o consumo das famílias e do governo, as altas da Selic podem estar prejudicando mais a oferta do que a demanda - o contrário do pretendido pelo BC.

Em relação a igual período de 2004, a agropecuária também expandiu-se 4,2% no primeiro trimestre de 2005. A indústria cresceu 3,1% e os serviços 2%. Pela ótica da demanda, na mesma comparação, o consumo das famílias cresceu 3,1%; os investimentos, 2,3%; o consumo do governo, 0,7%; as exportações,13,6%; e as importações 12,2%. Nos quatro trimestres até março, o PIB cresceu 4,6%, ante 4,9% em 2004.