Título: Exportações - há o que comemorar?
Autor: Antonio C. de Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Economia, p. B2

O Brasil atingiu recentemente a marca de US$ 100 bilhões de exportações, acumulada em 12 meses. É um resultado a ser comemorado e representa um grande avanço, principalmente se medido em relação ao desempenho no passado recente. No entanto, esse é um volume ainda muito aquém da média de países comparáveis, como veremos na seqüência. Há, de fato, uma recuperação em curso. Em 2004, por exemplo, em valores nominais, enquanto as exportações mundiais cresceram 18%, as exportações brasileiras aumentaram 32%. Outro trunfo brasileiro foi atingir esse montante gerando um superávit na balança comercial de US$ 33 bilhões, um dos mais expressivos do mundo.

A questão é que o Brasil perdeu participação no mercado mundial nas duas últimas décadas, justamente quanto houve o grande boom das exportações. Nos últimos 20 anos, as exportações mundiais praticamente quintuplicaram, saindo de um montante de US$ 2 trilhões (1985) para US$ 9 trilhões (2004). O comércio internacional foi impulsionado pela globalização, pela redução das tarifas de importação dos países, pela regionalização das economias (formação de blocos) e pela expansão das empresas transnacionais, responsáveis por mais de 60% das exportações mundiais.

Muitos países partem para as exportações por causa do reduzido mercado interno. Não é o nosso caso, felizmente. Exportar, para o Brasil, não se trata de uma opção de atender ao mercado externo em detrimento da economia doméstica. Trata-se, justamente, de aproveitar a economia de escala gerada pela crescente demanda interna para ganhar competitividade internacional.

Além disso, temos uma balança de serviços deficitária em cerca de US$ 27 bilhões ao ano (pagamento de juros e remessas de lucros e dividendos, entre outras despesas). Esse é um déficit estrutural, decorrente da nossa opção de crescer com poupança externa. No passado, mediante a contração de dívida externa. Mais recentemente, nos últimos dez anos, o Brasil se tornou um dos maiores absorvedores de investimento direto estrangeiro. A contrapartida dessa opção é o crescimento das remessas ao exterior para a remuneração do passivo externo acumulado. Esse é mais um motivo pelo qual se torna imprescindível gerar um superávit comercial consistente ao longo do tempo. Daí a necessidade de uma estratégia agressiva de ampliação das exportações.

O panorama internacional aponta para oportunidades. No ranking dos principais países exportadores de 2004 se destaca a liderança da Alemanha, com um total de US$ 915 bilhões, equivalentes a 10% do volume mundial de exportações. Logo em seguida aparecem os EUA, com US$ 819 bilhões e 9% de participação e, em terceiro lugar, a China, com US$ 593 bilhões e 6,5% de participação. O Brasil só aparece no 25.º lugar do ranking, com US$ 96 bilhões e apenas 1,1% de participação. Muito pouco para um país que já teve 1,5% de participação nas exportações mundiais em meados da década de 1980 e que hoje representa a nona economia mundial, considerando o PIB por Paridade de Poder de Compra.

Enquanto isso, países que exportavam o mesmo que o Brasil há 20 anos exportam atualmente um volume significativamente superior, como é o caso da Coréia do Sul (US$ 254 bilhões),do México (US$ 189 bilhões), da Rússia (US$ 183 bilhões), de Taiwan (US$ 181 bilhões), de Cingapura (US$ 180 bilhões) e da Espanha (US$ 179 bilhões).

Para consolidar a sua posição no mercado exportador mundial, é preciso que as vendas externas cresçam acima da média internacional, como vem ocorrendo nos últimos dois anos. Algumas ações são imprescindíveis, nesse sentido: 1) Estabelecer uma clara estratégia exportadora para não subordinar as exportações às oscilações do mercado interno e externo; 2) adotar uma política cambial competitiva e o menos volátil possível; 3) gerar novas competências em produtos e serviços de alto valor agregado; 4) criar marcas e canais de distribuição de produtos no exterior; 5) negociar acesso a mercados, nos diferentes âmbitos: multilateral (OMC), regional (Alca), birregional (Mercosul-União Européia) e bilateral (Brasil e demais países); e, por último, mas não menos importante: 6) impulsionar os investimentos em infra-estrutura e capacidade produtiva, para atender à crescente demanda internacional.