Título: Juros causaram recuo, diz Appy
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Economia, p. B3

A desaceleração do crescimento da economia registrado no primeiro trimestre do ano reflete, em parte, as altas de juros promovidas pelo governo, admitiu ontem o secretário de Política Econômica, Bernard Appy. "Essa reação à aceleração da inflação que aconteceu no ano passado reflete uma parte dessa desaceleração do crescimento que ocorreu no primeiro trimestre deste ano", disse. "Em compensação, o efeito dessa política é garantir a estabilidade dos preços no prazo mais longo e, dessa forma, garantir a renda que vai levar a um crescimento econômico mais acelerado nos próximos trimestres", argumentou o secretário. Para Appy, a taxa de inflação deve baixar nos próximos meses, provocando um novo aumento da demanda. "Pode ser que a inflação um pouco mais alta nesse período tenha tido algum efeito na queda do poder de compra da população, e portanto no resultado do primeiro trimestre."

Ele disse que o Ministério da Fazenda não revisou sua projeção de crescimento do PIB para este ano, de 4%.

Appy afirmou também que não preocupa a desaceleração dos investimentos, que, segundo ele, se deve a uma retração bastante forte na venda de máquinas e implementos agrícolas como resultado da perspectiva de quebra de safra agrícola. "A perspectiva é de retomada dos investimentos ao longo dos próximos trimestres", comentou. "Houve um período de crescimento muito concentrado, e é natural que haja um período de acomodação de gestão dos investimentos realizados."

Na avaliação do secretário, o crescimento de 0,3% do PIB no primeiro trimestre do ano em relação ao último trimestre do ano passado confirma as expectativas do governo e do mercado, que projetava um crescimento de 0,4%. "É uma acomodação que não compromete a perspectiva de crescimento futuro ao longo dos próximos meses. Todos os fundamentos da economia estão colocados de modo que o ciclo de crescimento continue com estabilidade econômica, que é o compromisso do governo."

O secretário lembrou que a expansão do PIB vem ocorrendo por oito trimestres e deve voltar a acelerar nos próximos meses. "Esse movimento de aceleração do crescimento está implícito nas projeções de mercado. Nos próximos trimestres, teremos um crescimento mais acelerado que nesse período de acomodação", previu.