Título: Pressão por mudança vai crescer
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Economia, p. B3

O fraco desempenho da economia no primeiro trimestre vai balizar, daqui para a frente, o debate dentro do governo sobre as metas de inflação e a política monetária. Essa é a avaliação da chamada ala desenvolvimentista do governo, que vem defendendo abertamente, há algum tempo, uma elevação da meta de inflação para 2006, fixada em 4,5%. Os integrantes dessa ala acham que a luz amarela foi acesa e que o presidente Lula não ficará indiferente aos efeitos da política monetária do Banco Central sobre a atividade econômica. "A realidade é sempre o argumento mais forte", disse ao Estado um representante desse grupo.

A perspectiva é que a pressão sobre o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, será cada vez mais intensa. Há também uma avaliação de que começa a ficar cada vez menor o apoio político para que o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) coloque em prática a sinalização feita, na ata de sua última reunião, de nova elevação da Selic em junho.

A preocupação do presidente com os números divulgados pelo IBGE foi tão grande que ele chamou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para uma conversa. Lula quis ouvir de seu principal ministro uma avaliação sobre o desempenho da economia no primeiro trimestre.

Lula mostrou-se surpreso com os efeitos da política monetária do Banco Central, ao contrário do que alguns integrantes do seu ministério, que procuraram transmitir a impressão de que os números do IBGE eram esperados. Não eram. Eles foram considerados ruins pelo governo, principalmente num momento de crise política resultante do embate em torno da CPI dos Correios.