Título: Resultado preocupa e incomoda Lula
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Economia, p. B3

A queda no ritmo de crescimento da economia no primeiro trimestre deste ano, confirmada pelos índices divulgados ontem pelo IBGE, deixou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva preocupado. Apesar do discurso do governo de que já era esperada uma redução do nível de atividade após o forte crescimento do final de 2004, o dado foi visto como muito ruim. Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o resultado incomodou o presidente. Bernardo foi além e disse que, especificamente, a queda no consumo das famílias no primeiro trimestre deixou Lula receoso. Para piorar, a divulgação do PIB veio num momento em que do que o governo menos precisa é de notícia negativa. Às voltas com a criação da CPI para investigar denúncias de corrupção nos Correios e com queda no índice de aprovação do governo, ministros e secretários se apressaram a explicar os números e tentar evitar que a oposição ficasse sozinha inflando discursos negativos.

Segundo Bernardo, o arrefecimento da economia nos primeiros meses do ano, não é "um quadro de todo ruim" e lembrou que era esperado crescimento de 0,4%. "Arrefeceu um pouco, mas é o oitavo trimestre consecutivo de crescimento", enfatizou. Ele ressaltou que, em 2004, os índices se comportaram da mesma maneira, mas no final do ano, o crescimento foi maior do que o previsto.

No Congresso, as avaliações uniram oposição e governo. Para Mercadante, a queda no nível de atividade é culpa dos juros altos e fruto de "uma meta inflacionária irrealista e incompatível com choque de preços de algumas commodities (como aço e petróleo) e com crescimento econômico". Isso faz com que a política econômica fique centrada nas taxas de câmbio e juros. "Mais uma vez estamos usando a âncora cambial para desinflacionar a economia e quando se faz isso por um prazo que não é curto, penaliza-se a economia."

Segundo Mercadante, a inflação já deu todos os sinais de que cedeu e não havia razão para nova elevação dos juros. "O BC tem de retomar a trajetória de queda nos juros", defendeu.

Já o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que mais preocupante foi a queda na taxa de investimento de 3% comparativamente ao final de 2004. "Essa é a pior notícia do ano porque significa falta de confiança no governo no médio prazo e descrédito com um conjunto de coisas que não avançam, são apenas idéias, promessas que não são cumpridas."

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, a redução na taxa de investimento é fruto da política de juros altos e poderá comprometer as metas de crescimento para os próximos anos. Mas acredita ser possível reverter o quadro. "Pode ser que no segundo semestre tenhamos um cenário com a queda na taxa de juros que, eu espero, seja expressiva."