Título: Empresários criticam a 'teimosia' do BC
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2005, Economia, p. B4

A queda nos investimentos pelo segundo trimestre consecutivo, mostrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, confirmou o que empresários dos mais diferentes setores já vinham alertando. Segundo eles, seria muito difícil levar adiante projetos de investimento diante da escalada dos juros e da desvalorização do dólar frente ao real. "Desde setembro do ano passado, quando teve início a política de elevação do juro básico, temos avisado insistentemente que a teimosia do Banco Central iria inibir os investimentos e provocar retração da atividade econômica. Os números começam a mostrar a verdade", afirma o presidente da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Segundo ele, não foi por obra do acaso que a taxa de investimentos medida pelo IBGE despencou a partir de setembro de 2004. Depois de registrar alta de 6,2% no terceiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior, o indicador teve quedas consecutivas de 3,9%, no último trimestre do ano passado , e de 3% no primeiro de 2005.

"É normal a taxa cair um pouco depois de apresentar uma forte alta, mas dois trimestres seguidos de retração é grave", diz Julio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O estancamento do processo de ampliação das intenções de investir, que parecia vigoroso até o terceiro trimestre de 2004, tem conseqüências negativas no médio e longo prazos, observa o diretor do Iedi. Primeiro, porque trava o crescimento da produtividade, um dos fatores mais importantes para a competitividade do produto brasileiro no mercado doméstico e no exterior. "Deixar de investir agora significa hipotecar o nosso futuro, pois teremos menos possibilidades de crescer sem o aumento da capacidade de produção".

Grandes projetos de setores considerados estratégicos, como o siderúrgico, petroquímico e celulose, não são afetados pelas expectativas mais negativas. "São projetos muito intensivos de capital, de maturação lenta e voltados para o mercado global", pondera o diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof. Contudo, ele afirma que a atuação "desastrosa" do Comitê de Política Econômica (Copom), do BC, fez com que o empresariado ficasse muito cauteloso em relação aos investimentos. "As mais afetadas são as milhares e milhares de pequenas e médias empresas do setor industrial, que são desencorajadas a investir pelas decisões recessivas do Copom".

Além de apresentar os estragos da política econômica, o IBGE também revisou para baixo o crescimento do ano passado: 4,9%, ante os 5,2% anteriormente divulgados. "Para que possamos crescer este ano entre 2% e 2,5%, temos de rezar muito para que o Copom dê a largada num movimento de queda significativa do juro básico, que faça com que o câmbio volte a um nível estimulante para a exportação, e que a agricultura consiga mostrar uma recuperação no segundo semestre. Caso contrário, iremos para a retração", afirma Tabacof.