Título: Oposição reage a ofensiva e prepara CPI só do Senado
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Nacional, p. A6

A oposição já tinha ontem 17 das 27 assinaturas necessárias para criar uma CPI dos Correios no Senado - que poderá ser instalada caso o governo tenha êxito na estratégia de impedir, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o funcionamento da CPI mista com o mesmo fim já aprovada pelo Congresso. As assinaturas estão sendo recolhidas pelo líder do PDT no Senado, Jefferson Peres (AM), que espera reunir até terça-feira o apoio de pelo menos 30 senadores no total. Ao mesmo tempo, PFL e PSDB mobilizam-se para criar uma CPI exclusiva de senadores para investigar as denúncias de corrupção no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), segundo as quais o PTB seria favorecido por uma "mesada" de R$ 400 mil. A oposição trabalha ainda para ressuscitar a CPI dos Bingos, que teria como alvo principal o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz.

"Nós identificamos uma ação efetiva do governo contra a CPI dos Correios e, ainda que estejam agindo de forma descoordenada, estamos tomando nossas precauções", explicou ontem o líder do PFL, senador José Agripino (RN). Ao menos de público, a oposição afirma que não perdeu a esperança de que a CPI mista dos Correios entre em funcionamento.

"Estamos certos de que ela sairá, porque a pressão das bases sobre os parlamentares no fim de semana será violenta. Mas é bom que saibam que só precisaremos de 24 horas para completar as assinaturas e criar a CPI no Senado", completou o líder da oposição no Senado, José Jorge (PFL-PE).

Os pefelistas estão animados com o bom resultado da pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) para apressar a decisão quanto à obrigatoriedade de a presidência do Senado indicar os membros da CPI dos Bingos. Não sem motivo. Em roda de conversa entre líderes aliados e ministros do STF que prestigiaram a homenagem do Senado aos 60 anos de criação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quarta-feira, o presidente do STF, Nelson Jobim, deu a notícia: o ministro Eros Grau, que suspendera julgamento com pedido de vistas, já liberou o processo da CPI dos Bingos para dar prosseguimento à votação.

"Essa CPI é que é a boa", brincou o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Para desgosto do governo, o placar parcial do STF é de 4 a 0 em favor da indicação dos participantes da comissão.

Segundo um líder governista, Jobim deu sinais de que o STF poderia adiar a votação, de modo a jogar a decisão final para o segundo semestre, isto é, depois do recesso parlamentar de julho. A alguns oposicionistas mais aguerridos e ex-companheiros de Congresso, o presidente do Supremo não escondeu sua preocupação com a crise política e pediu calma e moderação. Mesmo assim, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), duvida que o Planalto consiga tirar a investigação da pauta política. "Que o governo não tenha dúvidas de que, com ou sem recesso parlamentar, teremos uma CPI funcionando durante o mês de julho", disse.