Título: Consultoria liga 2 nomes do escândalo petebista
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Nacional, p. A8

Separados em setores até então estanques do escândalo sobre o suposto esquema de corrupção envolvendo o PTB, o oficial da reserva da Marinha Arlindo Gerardo Molina e o presidente do grupo Assurê, Henrique Brandão, têm algo em comum num grupo de salas localizado no centro do Rio. Ali funciona a Fradema Consultores Tributários, um escritório de advocacia na área de impostos que Molina já freqüentou e que mantém contrato de prestação de serviços com a Assurê, segundo confirmou ontem ao Estado um dos titulares da banca, o advogado Álvaro Monteiro Lopes. O endereço consta em documentos de Molina e Brandão. "Não sei se eles (Molina e Brandão) se conhecem", disse o advogado. "Não tenho a mínima idéia. Que seja do meu conhecimento, não."

Escritório de porte médio, estabelecido no Rio, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte e com associados em outras cidades, a Fradema já conseguiu reincluir mais de 3 mil empresas no Refis (programa de refinanciamento de dívidas tributárias) e defende 700 prefeituras que tentam recuperar perdas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Ontem, Lopes ressaltou que teve apenas meia dúzia de contatos com Molina e só mantém com a Assurê um contrato de R$ 4 mil mensais.

Segundo o advogado, Molina lhe foi apresentado há cinco anos, por alguém de que já não lembrava. "Um dia, me disseram: puxa, tem uma pessoa que você tem de conhecer, goza de muito prestígio, tem relacionamentos bons", contou. Na primeira reunião, na Fradema, Molina se apresentou como consultor de empresas, se disse bem relacionado no governo, mostrou desembaraço para falar, discorreu com desenvoltura sobre vários assuntos e deixou ótima impressão. Recebeu proposta de ganhar 20% sobre o que os advogados cobrassem de clientes que o "comandante", como depois ficou conhecido, lhes apresentasse.

"Ele disse: 'Viajo muito pelo Brasil, mas vou cuidar disso'", contou Lopes, que afirmou ter atuado para Molina, de graça, em um processo trabalhista de pequeno porte. "Mas nunca se concretizou." O comandante ainda foi recebido pelo menos mais uma vez e esteve na Fradema no mínimo mais três vezes, mas sem conseguir ver os advogados.

Tornara-se inconveniente: dava longos telefonemas, discorria sobre vários assuntos e fazia perguntas de consultoria tributária, falando de problemas de empresas. "Eu dizia: 'Traga o seu cliente aqui.' Mas ele nunca trazia", contou o advogado. A partir de um ponto, as ligações de Molina, que aparentava ter bom relacionamento na Fundação Getúlio Vargas, na Federação das Indústrias do Rio e na Associação Comercial, não foram mais atendidas.

"A última vez em que nos ligou foi no ano passado", contou Lopes, que lembrou que Molina chegou a falar em convidá-lo para um churrasco em sua casa, para lhe apresentar "amigos da cúpula" - o que jamais aconteceu. O contrato com a Assurê foi assinado também há cerca de cinco anos.

Lopes disse não lembrar quem o apresentou a Brandão. Os advogados foram à sede da empresa de seguros, onde acertaram a prestação de serviços de orientação fiscal e preparação de defesas em processos fiscais. "Ele teve problemas de natureza pessoal, por causa de pequenos erros", contou. Houve mais dois contatos com o presidente da Assurê, mas Brandão, afirmou o advogado, se manteve distante e passou os contatos para seus diretores. "Ele se colocava num patamar acima e nós em outro, abaixo", descreveu.

Molina atuou no escândalo com o capitão da reserva da PM mineira José Santos Fortuna Neves, um ex-araponga do Serviço Nacional de Informações (SNI), principal órgão de espionagem política da ditadura militar, tentando chantagear o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ). Com uma fita de vídeo e áudio na qual o ex-chefe do Departamento de Contratações dos Correios Maurício Marinho falava de suposto esquema de corrupção na empresa e pegava dinheiro, o "coronel Fortuna" e Molina tentaram obter a revogação da anulação de uma licitação para fornecer laptops à ECT.

Já Brandão é acusado de ter atuado com Jefferson para derrubar o então presidente do IRB Brasil Resseguros, Lídio Duarte. A presidência da estatal, que tem o monopólio de resseguros no País, passou a ser ocupada por Luiz Appolonio Neto, um afilhado político do presidente do PTB. Brandão, segundo a revista Veja, pediu R$ 400 mil mensais a Lídio, para serem repassados ao PTB.

O ex-presidente da empresa não confirma a história. Há também denúncias de suposto favorecimento por parte de estatais, como Eletronuclear, Furnas e Infraero, à Assurê em contratos de resseguro. Molina e Brandão têm sido procurados pelo Estado, mas não foram encontrados. Até ontem, não havia oficialmente indícios de que ambos tivessem freqüentado áreas em comum.