Título: Lula consulta aliados sobre impacto de saída de Meirelles
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Nacional, p. A17

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a sondar seus aliados no Congresso sobre a repercussão política de uma eventual saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Segundo um interlocutor presidencial, na conversa reservada que teve ontem com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Lula quis saber como a notícia da eventual troca de comando no BC seria recebida no Senado. O senador foi taxativo: desaconselhou mudanças na equipe em meio à crise política e à operação do governo para desmontar a CPI dos Correios. De volta ao Congresso, em entrevista coletiva, Renan confirmou apenas que a reforma do ministério foi um dos temas abordados na conversa, mas que o presidente não fará alterações na equipe de governo. Indagado sobre a possibilidade de afastamento do presidente do BC, insistiu que não haverá mudanças e que Lula teria concordado com suas ponderações neste sentido. "Não é o momento de se fazer reforma ministerial porque pode parecer que a motivação do governo é abafar a CPI", disse o senador. Em conversas com companheiros de PMDB, Renan tem repetido que é preciso liquidar a questão da CPI e reorganizar a base governista antes de pensar em mudar o ministério.

Não foi a primeira vez que a saída de Meirelles entrou na pauta de conversas do presidente. Um colaborador palaciano conta que o assunto também foi cogitado há cerca de três semanas, no contexto de uma reforma ministerial mais ampla, para promover uma espécie de "depuração ética" no primeiro escalão do governo, com o afastamento não só de Meirelles como também do ministro da Previdência, senador Romero Jucá (PMDB-RR), ambos sob investigação por suspeita de terem cometido irregularidades fiscais.

A sondagem de Lula ao presidente do Senado faz sentido porque um eventual substituto do presidente do BC terá de passar pelo crivo dos senadores na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e no plenário. Daí o interesse em saber como os senadores reagiriam a uma troca. A mudança deve ser inevitável porque Meirelles pretende deixar o BC para disputar o governo de Goiás.

No caso do ministro Jucá, Lula teria confidenciado a Renan que não tem a intenção de substituí-lo agora, apesar da pendência judicial. Segundo Lula, o ministro já produz resultado positivo, com uma arrecadação na Previdência que há anos não se registrava.