Título: Para general, somente tropas não resolvem
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Nacional, p. A18

O comandante da Força Militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, disse ontem ao Estado, por telefone, que não será possível garantir segurança no país, se não forem tomadas medidas concretas para combater o caos social e econômico. "Se os atores envolvidos no Haiti não se convencerem de que o problema não é só militar, mas também de infra-estrutura, nossa missão vai fracassar, assim como fracassaram seis missões anteriores", adverte o general brasileiro, que tem sob seu comando uma força internacional de 6.200 homens.

Há três semanas, informou o comandante, as tropas da Minustah enfrentam uma situação difícil na capital, por causa do aumento do número de seqüestros. "Como Porto Príncipe é o termômetro do país, essas ações têm efeito negativo grande, porque a população, de 2,5 milhões de habitantes, é muito vulnerável a boatos e exageros que espalham o pânico", disse.

O general Heleno falou pelo celular, enquanto se dirigia, ontem à tarde, a Cité Militaire, bairro onde se concentram instalações industriais e comerciais, para montar uma operação contra atentados e seqüestros. Os empresários pediram socorro à força da ONU depois que um incêndio, supostamente criminoso, que matou cinco pessoas, destruiu o mercado Tête Boeuf, no centro da cidade, anteontem.

A decisão do Conselho de Segurança de prorrogar, por apenas 24 dias, a permanência das tropas da ONU, não altera a rotina das operações militares no Haiti. Esse prazo, segundo o general Heleno, foi estabelecido para que haja tempo de negociar recursos para a prorrogação do mandato por 12 meses, conforme pedido do secretário-geral Kofi Annan.

"A discussão não afeta nosso trabalho imediato, pois estamos levando avante nossa missão", disse o comandante da Força Militar. Ontem, desembarcaram em Porto Príncipe 280 soldados brasileiros, em substituição às tropas que estão voltando do Haiti. O Brasil vai reduzir seu contingente de 1.200 para 950 homens, dos quais uma companhia de Engenharia. A reposição dos soldados brasileiros será concluída no dia 15.