Título: Agora, China se opõe à permanência da força de paz brasileira no Haiti
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Nacional, p. A18

A China cruzou o caminho da política externa brasileira no segundo dia consecutivo: cresceu ontem o impasse com a resistência chinesa a aprovar a prorrogação da força de paz que o Brasil comanda no Haiti. Anteontem o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma "rolagem técnica" do prazo de permanência até o dia 24 de junho, enquanto o impasse é negociado. O Itamaraty disse ontem que o governo brasileiro trabalha com a perspectiva de continuar no Haiti até dezembro. Para justificar sua posição, o embaixador-adjunto da China na ONU, Zhang Yisham, afirmou que a maioria das missões de paz operam com prazos fixos de seis meses e com o Haiti não deve ser diferente. Anteontem a delegação chinesa na ONU anunciou que usará seu poder de veto para barrar o projeto de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas que Brasil, Japão, Alemanha e Índia (G-4) apresentaram à ONU.

Ontem diplomatas brasileiros comentaram que o verdadeiro objetivo da China não é enfraquecer a missão de paz, mas reduzir a intensidade das relações do Haiti com Taiwan, intensas desde 1956. Há décadas China e Taiwan protagonizam uma intensa disputa para exercer influência sobre os países do Caribe.

A China endureceu sua posição depois que o o presidente do Haiti, Boniface Alexandre, anunciou sua decisão de visitar Taiwan em julho. Na ONU, especula-se que o limite da negociação será obrigar a China a impor o que chamam de "um veto desastroso" à continuidade da missão de paz que tenta estabilizar o pequeno país caribenho.

O governo brasileiro lembrou que a China aprovou a criação da força de paz, no ano passado, sem restrições. "O Brasil espera que no final de junho seja aprovada uma nova prorrogação", afirmou a Assessoria de Imprensa do Itamaraty, acrescentando que o Brasil tem "a melhor das intenções de continuar no comando da missão de paz".

Anteontem, o Brasil embarcou para o Haiti uma tropa de 280 soldados, parte de um contingente de 950 homens que vão render 1.200 soldados que encerram agora a sua participação na missão. A volta desses homens está programada para dezembro, segundo informações do Itamaraty.

Na opinião de diplomatas brasileiros, o problema na ONU surgiu depois que o governo dos Estados Unidos pediu a "rolagem técnica" porque precisava de prazo para obter a aprovação do Congresso ao envio de mais soldados.