Título: Chirac divide o governo entre Villepin e Sarkozy
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Internacional, p. A21

A França montou um governo de duas cabeças para tentar sair da crise provocada pela rejeição da Constituição da União Européia (UE) no referendo de domingo. O novo gabinete foi anunciado ontem no Palácio do Eliseu depois de mais de 48 horas de árduas negociações. Nos dois postos de maior poder estão dois adversários políticos. Trata-se do primeiro-ministro, Dominique de Villepin, e do ministro de Estado (espécie de vice-primeiro-ministro), Nicolas Sarkozy. O forte antagonismo entre Villepin e Sarkozy não teve trégua nem mesmo na fase de formação do novo gabinete. Sarkozy exigiu posições-chave para seus homens de confiança, mas nem todas as reivindicações foram atendidas. Duas importantes personalidades ligadas a ele deixam o ministério: François Fillon, que ocupava a pasta da Educação, e Patrick Devedjian, da Indústria. Apesar disso, Sarkozy manifestou satisfação: "Terei o melhor do governo. O pior é ser primeiro-ministro."

O anúncio do novo gabinete ocorre num clima de grande ceticismo na UE em razão das rejeições da Carta européia por franceses e holandeses. Uma das primeiras conseqüências concretas disso foi econômica. O euro, moeda única européia, sofreu ontem desvalorização de 2% em relação ao dólar.

Esse clima levou o chanceler alemão, Gerhard Schroeder, a fazer um apelo aos demais parceiros da UE para que não se deixem tomar de pânico. E prossigam o processo de ratificação do texto constitucional. Coincidindo com o discurso do líder alemão, sopraram ventos favoráveis da Letônia, onde o Parlamento ratificou a Constituição de forma unânime.

Schroeder deverá encontrar-se com Chirac amanhã para tirar uma posição comum que possa trazer tranqüilidade a toda a comunidade.

Em relação à política interna francesa (causa da insatisfação que levou os franceses a vetarem a Carta européia), Villepin, o novo chefe do governo, estabeleceu prazo de cem dias para convencer a opinião pública de que poderá reverter a tendência do desemprego - estimado em 10,2% da força de trabalho. Aumentar os postos de trabalho é prioridade absoluta para Villepin. Isso porque os franceses receberam com um pé atrás a indicação dele pelo presidente Jacques Chirac, cuja popularidade está em queda livre. Apenas 24% dos franceses confiam em Chirac, segundo o Instituto Sofres. É o índice mais baixo entre todos os chefes de Estado mais recentes.

A pesquisa revelou ainda que 40% dos eleitores desaprovaram a nomeação de Villepin, enquanto 56% apoiaram a volta ao governo de Sarkozy, que acumulará o cargo de ministro do Interior. Ele passará a controlar a polícia e o serviço secreto, funções fundamentais para quem pretende ser presidente da república.

O empresário Thierruy Bretton permanecerá à frente do Ministério da Economia. Phillipe Douste Blazy, um médico, vai ocupar o Ministério de Relações Exteriores. Michele Alliot Marie foi mantida no Ministério da Defesa.