Título: Área do euro pode entrar em crise
Autor: Gilles Lapouge
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Internacional, p. A21

Depois da dupla bofetada que lhe aplicaram França e Holanda, a nova Carta da Europa de 25 membros está morta. De Bruxelas a Roma todo o mundo sabe, mas ninguém tem a coragem de anunciar, o óbito dessa Constituição. Anunciados ou não, os efeitos desse óbito já se fazem sentir. As ondas de choque atingem pouco a pouco a Europa toda e cada um dos países europeus. Limitemo-nos, porém, a dar uma olhada em Londres e Berlim.

Londres: o "não" francês empesteou as relações, já malcheirosas, entre França e Inglaterra. Londres, exultante com o não francês, gostaria de aproveitar-se dele para desmontar todo o processo de ratificação nos diferentes países da Europa. Qual seria a vantagem deste colapso geral para a Inglaterra? Tony Blair, que é pró-europeu num país antieuropeu, havia aceitado a contra gosto consultar os ingleses sobre esse famoso tratado, há um ano, num referendo. Era perigoso. Os ingleses são fundamentalmente contra a Europa. Assim, depois da brecha aberta por França e Holanda, tal referendo só poderia se traduzir na vitória gloriosa do não e, portanto, numa derrota de Blair.

Milagrosamente, porém, Blair pode se livrar da armadilha mortal. Ele pode explicar que por causa do não dos franceses, vai anular o referendo na Inglaterra.

Bela jogada de pôquer de Blair: ele se apresenta como um europeu leal, mas evita um referendo de alto risco e diz que o responsável por toda essa confusão é a imbecil da França.

Segundo exemplo: a Alemanha. Nesse país muito amigo da França, os desgastes são terríveis. O furacão sacode até mesmo a moeda única da Europa, o euro.

"Teremos engolido o euro atravessado?" pergunta o jornal Stern. O jornal revela uma reunião secreta da nata das finanças alemãs. Um dos participantes teria declarado: "As divergências atuais poderiam conduzir, daqui a alguns anos, a um desmantelamento do euro."

O Ministério das Finanças alemão certamente desmentiu. Mas numa nota interna reconhece que o fim do marco alemão não foi um bom negócio. A Alemanha, tão logo o marco foi substituído pelo euro, perdeu a vantagem competitiva de ter as taxas de juros mais baixas da Europa. A perda da Alemanha é meticulosamente calculada. Ao autorizar seus vizinhos a terem o mesmo juro que ela, a Alemanha cedeu 1,4 ponto de crescimento em 2004. E o Stern conclui nos ensinando que o Parlamento preparou um documento mostrando que seria possível sair da esfera do euro sem provocar uma catástrofe.