Título: Três brasileiros chegam ao topo do Monte Everest
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Vida &, p. A23

Em duas expedições, eles alcançaram juntos o cume. É a 2.ª

vez que a bandeira brasileira vai ao ponto mais alto do mundo

Ricardo Westin

Duas expedições do Brasil atingiram ontem o topo do Monte Everest. Elas haviam partido de lados opostos da montanha em abril e, por coincidência, chegaram ao ponto mais alto do mundo, a 8.848 metros de altitude, ao mesmo tempo. Waldemar Niclevicz, de 39 anos, e Irivan Burda, de 34, escalaram o Everest pela face sul, partindo do Nepal. Vitor Negrete e Rodrigo Raineri, ambos de 36 anos, subiram pela face norte, que parte do Tibete.

A escalada pelo lado norte é considerada mais difícil em razão dos fortes ventos e do clima extremamente árido. Faltando apenas 50 metros para o topo, Raineri concluiu que não resistiria e abandonou a escalada. Assim, foram três os alpinistas que chegaram ontem ao cume.

Essa foi a segunda vez que a bandeira brasileira chegou ao ponto mais alto do planeta. Da primeira façanha, em 14 de maio de 1995, participaram o próprio Niclevicz, o único brasileiro a alcançar o topo do Everest duas vezes, e Mozart Catão, que morreu em 1998, vítima de uma avalanche de neve enquanto escalava o Aconcágua, nos Andes.

Agora são quatro os brasileiros que conseguiram chegar à altitude de quase 9 quilômetros. Desde 1953, cerca de 1.400 alpinistas de todo o mundo escalaram o Everest. Na tentativa, morreram 175.

As duas equipes partiram do Brasil no fim de março. Niclevicz e Burda chegaram ao seu acampamento-base, a 5.400 metros de altitude, em 11 de abril. Negrete e Raineri chegaram no dia seguinte à base do lado tibetano, a 5.200 metros. A partir de então, foram necessários cerca de 50 dias para completar a escalada.

A idéia de Niclevicz e Burda era partir para o "ataque final" no sábado, mas o plano teve de ser adiado por causa das condições atmosféricas. "Tivemos uma violenta tempestade elétrica sobre o nosso acampamento. Foi mais de uma hora de raios e trovões que nos assustaram. A princípio, achei que fosse alguma avalanche", relatou Niclevicz em sua página na internet.

CILINDROS DE OXIGÊNIO

O plano da dupla que subiu pela face norte era dificultar ainda mais a escalada, dispensando cilindros de oxigênio, feito que poucos alpinistas conseguiram até hoje. Isso acabou não ocorrendo porque Raineri e Negrete perceberam que poderiam não resistir. A partir de 2.500 metros de altitude, o impacto do ar rarefeito (com menos oxigênio) começa a ser sentido: a respiração fica mais difícil e acelerada, o que pode causar hipoxia (falta de oxigenação) no cérebro. Para piorar, há o frio, que atinge - 40º C, e o reflexo do Sol na neve, que pode provocar cegueira temporária.

Raineri, na véspera do dia em que seu companheiro atingiria o cume, fez um relato das dificuldades que o levariam a abandonar a escalada: "O tempo está ruim, mas não está mais horrível. Tivemos uma noite complicada, fomos quatro dormindo numa barraca para duas pessoas e não jantamos para racionar comida."

Nos acampamentos das duas faces do monte, os brasileiros tiveram a companhia de alpinistas de outros países. Nesta semana, outros 21 montanhistas alcançaram o topo do monte, incluindo a primeira expedição feminina a conquistar o Everest, composta por mulheres do Exército da Índia.

A informação de que as duas expedições chegaram ao topo simultaneamente foi dada por assessores da expedição de Negrete e Raineri. Assessores da outra dupla, embora tenham recebido a informação, preferiram não confirmá-la até que consigam contato com os alpinistas.

A descida já começou. Os quatro devem chegar aos pés do Everest dentro de dez dias.