Título: Pioram expectativas do consumidor
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Economia, p. B3

A turbulência política das últimas semanas levou à queda, pelo quarto mês consecutivo, da parcela de consumidores que consideram a situação econômica do País melhor do que há seis meses. A Sondagem das Expectativas do Consumidor divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que, em maio, apenas 12,9% dos entrevistados consideravam a situação atual melhor. Em janeiro deste ano, essa fatia era de 24,7%. Também aumentou a preocupação dos consumidores em relação ao mercado de trabalho. Para o economista Aloisio Campelo, responsável pela análise dos dados, as "turbulências políticas" estão tornando os consumidores mais insatisfeitos e pessimistas em relação à situação atual e futura do País. Segundo ele, a iminência da CPI dos Correios é o principal fator político que está afetando as expectativas. No entanto, ele avalia que não houve uma deterioração nas expectativas do consumidor em maio em relação a abril.

A sondagem de maio mostrou que 28,2% dos entrevistados - 1.470 chefes de domicílios em 12 capitais, ouvidos entre os dias 5 e 20 de maio - consideram que a situação econômica atual é pior do que há seis meses. Em abril, o porcentual era de 25,8%.

Por outro lado, os entrevistados estão menos insatisfeitos quanto à situação econômica da família em relação há seis meses: 21,7% avaliaram, em maio, que a situação está melhor, ante 20,4% em abril. Campelo explica que, "no caso da família, o consumidor tem mais controle sobre a situação, mais parâmetros da realidade". Para os próximos seis meses, 16,2% dos entrevistados acreditam que a situação econômica do País estará pior em relação ao momento atual, ante 14,8% em maio. No caso da situação econômica da família, o otimismo é maior, já que 6,5% acreditavam, em maio, que a situação estaria pior, ante 8% em abril.

TRABALHO

As perspectivas em relação à situação familiar contrastam com as expectativas de emprego. A sondagem mostrou "imensa preocupação com o mercado de trabalho", disse Campelo. O porcentual dos que acreditam que será mais fácil obter emprego nos próximos seis meses em relação às condições atuais, de 6,7%, é o menor na série histórica, iniciada em outubro de 2002.

No caso do porcentual dos que avaliam que será mais difícil encontrar trabalho (55,2% em maio, ante 55,4% em abril) houve estabilidade em relação ao mês anterior mas, segundo Campelo, "é um nível historicamente alto". Para o economista, "esse é um ponto em que o consumidor está muito preocupado e isso mostra uma certa dúvida sobre o que vai acontecer com a economia nos próximos meses". "Há uma forte dúvida do consumidor se o crescimento da economia será suficiente para gerar empregos."

Apesar das manifestações de insatisfação e pessimismo dos consumidores em relação a vários itens pesquisados, a sondagem da FGV apontou estabilidade na expectativa dos entrevistados em maio, na comparação com abril. Segundo Campelo, ainda que a pesquisa tenha apresentado maior insatisfação em relação à situação econômica atual e mais pessimismo sobre a evolução do mercado de trabalho e da própria economia, há uma melhoria na avaliação das famílias em relação às suas próprias perspectivas.

Segundo Campelo, a FGV ainda não dispõe de um indicador médio de todos os dados da pesquisa que mostrem em números a estabilidade em relação ao mês anterior, mas disse que cálculos matemáticos dos dados feitos pelos responsáveis pela pesquisa confirmam o cenário estável.

Para o economista, ainda que na média dos dados tenha ocorrido empate nas expectativas em abril e maio, "os resultados futuros são uma incógnita". Ele lembra que "de janeiro a abril a confiança estava diminuindo, agora há uma tendência à estabilização e os resultados são muito heterogêneos para apontar o que pode ocorrer nos próximos meses". "Não dá para saber se há uma inversão de tendência, temos de esperar (a pesquisa de) junho para saber o que ocorrerá. Mas em maio o resultado foi menos negativo do que os que vinham sendo captados de janeiro a abril."