Título: Brasil, mais lento que o mundo
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Economia, p. B4

A velocidade do crescimento da economia brasileira neste início do ano ficou muito aquém do ritmo de outros países. Enquanto o Brasil cresceu 0,3% no primeiro trimestre, ante o último trimestre do ano passado, um grupo de 13 países selecionados em levantamento da GRCVisão avançou 0,7%. O baixo crescimento poderá levar a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) a rever as projeções de 2005 para o País e a região. "Os juros altos, em grande parte, são os responsáveis por este crescimento pífio do PIB (Produto Interno Bruto)", disse o consultor Alex Agostini, da GRC. O levantamento inclui países com informações disponíveis, como Estados Unidos, da zona do euro, Reino Unido, Japão e os emergentes México, Chile e Grécia. Para Agostini, o baixo crescimento relativo prejudica as decisões de investimento e a atração de novos empreendimentos.

O economista ressalta que mesmo países europeus, que enfrentam forte valorização da moeda e problemas internos, cresceram mais do que o Brasil, casos de Alemanha (1,0%) e Espanha (0,9%). "A situação é crítica, porque os produtos desses países perderam competitividade por causa do euro caro. Além disso, há problemas de mercado de trabalho."

Na comparação com o trimestre anterior, não entraram países com crescimento expressivo, como China e Índia, sobre os quais a consultoria não tinha o dado disponível. Sobre o primeiro trimestre de 2004, a China cresceu 9,4% e a estimativa para a Índia é de 7,5% - o Brasil avançou 2,9%.

Nos últimos 2 anos, o crescimento da economia brasileira ficou abaixo da evolução no continente, com base nos dados da Cepal. O Brasil cresceu 0,5% e 4,9%, respectivamente em 2003 e 2004, enquanto a região avançou 1,9% e 5,5% no período. Para 2005, a Cepal estimava crescimento de 4% para o Brasil.

O diretor da Cepal para o Brasil, Renato Baumann, informou que as últimas previsões foram elaboradas em novembro do ano passado e divulgadas em dezembro. Entre julho e agosto deste ano, sairão os novos números de projeções da comissão. Baumann não antecipou quais serão os resultados, mas reconheceu que "provavelmente" a estimativa brasileira deverá ser revista para baixo. A GRC ajustou sua estimativa de 3,5% para 3,1%.

Baumann explica que as economias de outros países da região se expandiram mais que a brasileira nos dois últimos anos. Ele cita que em 2004 a Argentina cresceu 8,2%; o Uruguai, 12%; e Venezuela, 18%. Nestes três casos, pondera, contudo, houve forte "componente estatística", em cima de bases mais fracas. Ele também comentou que a revisão do crescimento de 5,2% para 4,9% em 2004 deverá causar pequeno ajuste da média regional para o ano passado.

O professor da PUC/SP Antonio Corrêa de Lacerda diz que o Brasil precisa crescer pelo menos 5% ao ano e, na prática, está perdendo uma oportunidade. "Se não faz isso quando a economia mundial está crescendo, quando ela estiver em crise, ou crescendo pouco, vai ser mais difícil. Quando o vento está a favor, tem de aproveitar", comentou o economista.