Título: Déficit argentino com País é recorde
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Economia, p. B5

O déficit comercial da Argentina com o Brasil voltou a bater recordes e reforça o clima de tensão entre os dois países - possivelmente será o novo argumento para os pedidos protecionistas do empresariado argentino. Segundo o Centro de Estudos Bonaerenses (CEB), o vermelho argentino na balança comercial em maio foi de US$ 334 milhões. O déficit acumulado nos primeiros cinco meses deste ano é de US$ 1,23 bilhão, aumento de 123,8% em comparação ao mesmo período do ano passado. A Argentina acumula 24 meses de déficit comercial com o Brasil. De 1995 a 2003, registrou confortável superávit. Em 2002, durante a pior crise financeira da Argentina, as importações foram reduzidas drasticamente e o país teve seu último grande superávit em relação ao principal parceiro do Mercosul: US$ 2,4 bilhões.

Em 2003, com a reativação econômica argentina, a balança foi favorável nos primeiros quatro meses do ano e depois despencou. O saldo foi levemente favorável à Argentina, de US$ 112,6 milhões. No ano passado, o déficit chegou a US$ 1,8 bilhão. Este ano, a expectativa é de que ultrapasse US$2,5 bilhões.

Segundo o CEB, as exportações argentinas ao Brasil em maio foram de US$ 556 milhões, 32,4% a mais do que no mesmo mês de 2004. Até maio deste ano, o total exportado ao mercado brasileiro foi de US$ 2,453 bilhões, 18,2% a mais do que no mesmo período do ano passado.

As importações argentinas de produtos brasileiros em maio chegaram a US$ 890 milhões, aumento de 44,5% ante maio de 2004. De janeiro a maio, as vendas brasileiras para a Argentina acumularam US$ 3,686 bilhões, ou 40,4% a mais do que no mesmo período de 2004.

O crescimento das exportações brasileiras para este mercado deve-se principalmente ao aumento das vendas de veículos, autopeças, máquinas, produtos eletrônicos, siderúrgicos, plásticos e químicos orgânicos.

TRIGO

Em abril, um recuo significativo no déficit com o Brasil, de US$ 250 milhões, deu esperanças aos argentinos, mas, segundo o CEB, "não foi suficiente para dissipar a preocupação pela situação da relação bilateral". Além disso, é preocupante a queda de 25% nas vendas de trigo argentino para o Brasil, entre janeiro e abril deste ano. "Este produto, o mais importante entre os enviados por nosso país, mostra uma queda como conseqüência da tendência do Brasil a se auto-abastecer."

O aumento do déficit é combustível para os pedidos protecionistas da União Industrial Argentina (UIA), cujos integrantes afirmam ser vítimas de uma "avalanche" de produtos Made in Brazil. Para os analistas, os conflitos comerciais são úteis para o presidente Kirchner se mostrar "durão" com o Brasil e, com isso, angariar votos na classe operária e entre os pequenos empresários para as eleições parlamentares de outubro próximo. Essas eleições definirão o mapa do poder na Argentina pelos próximos dois anos. Se Kirchner derrotar os adversários, poderá aspirar à reeleição presidencial em 2007.