Título: Governo dirá como ajudar a Varig
Autor: Sheila D'Amorim, James Allen
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2005, Economia, p. B20

A Varig deu, ontem, um passo importante para convencer o governo a aprovar o plano de reestruturação negociado com a companhia portuguesa TAP. Durante duas horas e meia, os presidentes da Varig, Henrique Neves, do Conselho de Administração, David Zylbersztajn, e da TAP, Fernando Pinto, apresentaram aos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, da Casa Civil, José Dirceu, e da Defesa, José de Alencar, os detalhes do programa acertado entre as duas companhias aéreas. Foi a primeira vez que eles conseguiram reunir todos os ministros envolvidos diretamente na discussão e, de acordo com Zylbersztajn, eles aprovaram a idéia. "Tanto o Dirceu, quanto Palocci e o Alencar saíram elogiando a estrutura da proposta e, agora, vamos encaminhar efetivamente a maneira de materializar isso o mais rápido possível", disse Zylbersztajn após o encontro, ressaltando que a solução para Varig passa pelo esforço conjunto dos credores nacionais e estrangeiros.

No entanto, nada foi decidido e ninguém do governo quis comentar a reunião. Mesmo sem uma sinalização concreta para selar o acordo, as empresas obtiveram dos ministros o compromisso de apresentar, na semana que vem, a definição de qual será a participação do governo na reestruturação.

Está descartada, segundo Zylbersztajn, a participação do BNDES, mas ele admitiu que a negociação pode levar ao encontro de contas reivindicado pela companhia brasileira. A Varig quer usar a indenização de R$ 2,5 bilhões a que teria direito, devido ao congelamento das tarifas aéreas na década de 90 para quitar dívidas fiscais e com o INSS. A briga, porém, ainda passará pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Se o governo aceitar, a disputa judicial se encerrará.

Além disso, a Varig tem débitos com a Infraero e Petrobrás Distribuidora, cuja renegociação vai depender da participação do governo na reestruturação. "O governo não se comprometeu com nada, mas achou que a proposta iria funcionar", afirmou Zylbersztajn.

A presença dos três ministros pode ser um trunfo para Varig, dadas as divergências dentro do governo em torno do assunto. Dirceu, que defendeu a fusão da Varig com a Gol, ameaçou não participar da reunião, marcada inicialmente para o seu gabinete.

Na proposta apresentada, a TAP se compromete a injetar capital na Varig no montante correspondente a 20% do controle. "Além disso, a capitalização vai contar com entrega de aeronaves", explicou Pinto, ressaltando que já conseguiu parceiros internacionais para a capitalização. Pinto e Zylbersztajn confirmaram que a Varig manteria a operação das linhas internacionais, maior interesse da TAP. "As duas empresas crescerão porque o cliente de uma usará o serviço da outra. A Varig continuará as operações domésticas e internacionais", disse Pinto.