Título: Bancada rebelde do PT se reúne para discutir relação
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Nacional, p. A4

A bancada do PT na Câmara optou pelo divã para resolver o problema com os deputados que assinaram a CPI dos Correios ao contrário da punição já aplicada ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pelo grupo no partido do qual o senador é integrante. Por três horas, a executiva da bancada do PT e os 12 deputados que assinaram a CPI discutiram ontem, sem ameaça de punição ou de retaliação, a relação e a convivência entre eles. Os outros dois petistas que haviam assinado a CPI, Antonio Carlos Biscaia (RJ) e Virgílio Guimarães (MG), não foram chamados à sessão de discussão porque concordaram em retirar suas assinaturas atendendo a apelo do partido.

"Queremos resgatar as relações na bancada", afirmou o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA). O líder deixou claro na reunião que não estava em curso nenhuma medida punitiva e que discordava das declarações do presidente do PT, José Genoino, e do ministro da Casa Civil, José Dirceu, que sugeriu aos petistas que apoiaram a CPI que deixassem o partido. Genoino e Dirceu integram o chamado Campo Majoritário, que anteontem expulsou o senador Suplicy da chapa em que o atual presidente do PT vai disputar a reeleição para o cargo. Suplicy foi o único senador petista a assinar a CPI dos Correios.

O líder Paulo Rocha e os integrantes da executiva da bancada, excluído o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), que estava na condição de integrante do grupo que assinou a CPI, preferiram ontem discutir o método adotado pelos petistas a questionar o motivo que levou os deputados a assinar o requerimento. A reclamação da executiva era a de que os deputados não esperaram a decisão da bancada para assinar o pedido.

"Para nós, a bancada deveria ter proposto a CPI", disse o deputado Ivan Valente (PT-SP). A reunião serviu para melhorar a relação do grupo e constatar, mais uma vez, divergência política forte na bancada. Sem a guilhotina sobre a cabeça, os deputados criticaram a punição de Suplicy.

"Puniram o Suplicy porque ele foi petista demais", afirmou Chico Alencar (PT-RJ), um dos que apoiaram a CPI. "O Campo Majoritário tem de refletir se não está se desgarrando do próprio PT. É uma espécie de escalada insensata. Um partido que vai se divorciando de seu programa e punindo pessoas por seu zelo e coerência", completou Alencar. "Ele (Suplicy) tem de estar fora do Campo Majoritário. Se suas posições se aproximam mais da esquerda é melhor para o partido", completou Valente.