Título: Ministros petistas abortam idéia de entregar cargos
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Nacional, p. A4

Sugestão de Gushiken pretendia deixar Lula à vontade para

fazer reforma ministerial, mas Palocci liderou rejeição unânime .

Os ministros do PT rejeitaram proposta feita pelo também ministro petista Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) para que todos entregassem seus cargos. A idéia de Gushiken era deixar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva livre para fazer uma reforma ministerial neste momento de crise política, gerada pelas suspeitas de corrupção em órgãos públicos e pela abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios no Congresso. A sugestão foi apresentada por Gushiken na reunião secreta feita pelos 19 ministros do PT, na casa da secretária-ministra Nilcéia Freire (Direitos da Mulher), no Lago Sul, região nobre de Brasília. Da reunião participou também o presidente do PT, José Genoino, este contrário à demissão coletiva.

"Acho que o melhor seria que todos entregassem seus cargos ao presidente Lula. É muito difícil montar um base política com 19 ministros de um mesmo partido", disse Gushiken, de acordo com relato de um dos presentes. Mal ele terminou de falar, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que assumiu a articulação para frear a CPI na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, rebateu: "Isso não é conveniente. O momento é de crise e não seria bom nem para o País nem para o presidente que tomássemos essa atitude."

Para o ministro da Fazenda, todas as iniciativas do governo vão ser exploradas pelos partidos de oposição, sempre com o argumento de que querem barrar a CPI dos Correios. "Entregar os cargos agora teria duas conseqüências", disse Palocci, ainda conforme relato de um colega. "Primeiro, levaria o presidente Lula a fazer uma reforma ministerial num momento delicado; segundo, poderia ser interpretado pela opinião pública como uma forma de negociar cargos para brecar a CPI. Isso não é conveniente. Temos de mostrar que a oposição quer a CPI para antecipar a campanha presidencial de 2006."

O mesmo Palocci - aí, com a ajuda de outros - lembrou que em janeiro todos os ministros do PT puseram seus cargos à disposição do presidente, quando se falava que seria feita uma reforma ministerial em fevereiro. A decisão, portanto, continuaria valendo. Até então calado, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, disse que o presidente é o dono do cargo de todo mundo e, caso venha a precisar de um, comunicará que pretende fazer a troca. "Ninguém é dono do cargo. E ninguém vai se recusar a entregá-lo caso o presidente solicite a vaga", disse Dirceu, também segundo narrativa de um dos presentes.

De acordo com a análise de um ministro, a sugestão de Gushiken visaria mais do que dar a Lula a oportunidade de trocar ministros do PT por outros de partidos da base aliada. Teria como conseqüência o afastamento imediato do ministro da Previdência, Romero Jucá, que está sob investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de operações irregulares na tomada de um empréstimo superior a R$ 8 milhões do Banco da Amazônia, e do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que é do PC do B. Gushiken já disse publicamente que Aldo deveria ser substituído por um petista. O lugar é reivindicado pelo ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Lula, no entanto, se recusa a afastar Aldo.