Título: Palocci pede que CPI não paralise Congresso e apresenta prioridades
Autor: James Allen, Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Nacional, p. A8

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fez ontem um apelo para que a CPI dos Correios não paralise os trabalhos do Congresso e divulgou uma lista dos projetos prioritários para o governo. "A CPI não pode impedir que se desenvolva uma pauta", afirmou. O movimento está em sintonia com as novas atribuições informais do ministro - que desde o início da crise aberta pelas denúncias de corrupção nos Correios vem ampliando sua participação na coordenação política, conforme revelou o Estado na edição de ontem. Em entrevista coletiva no Ministério da Fazenda, Palocci ressaltou que não é responsável pelo trabalho de coordenação política do governo. "Essa coordenação, feita pelos ministros Aldo Rebelo e José Dirceu, está sendo muito bem feita e muito bem conduzida", disse ele.

A lista de projetos prioritários de Palocci inclui a reforma tributária, a regulamentação da Lei de Falências, a normatização das agências reguladoras e o marco regulatório do resseguro. Trata-se de projetos considerados fundamentais para dar segurança aos empresários e estimular o desenvolvimento econômico - que, na visão do ministro, pode ser prejudicado se o Congresso concentrar todas as energias na apuração das denúncias de corrupção. "Nosso maior problema é definir uma agenda para que nosso PIB potencial mude de patamar e o País cresça de forma mais forte", disse Palocci na entrevista. "O Brasil tem instituições que podem tratar das investigações."

A avaliação no governo é de que, depois da derrota sofrida com a criação da CPI, a base aliada precisa mesmo de uma pauta para conseguir retomar a iniciativa política no Congresso. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, vai agora consultar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre projetos do interesse de outras áreas do governo que podem ser incluídos na lista de prioridades. Parece ser o caso da reforma universitária, proposta pelo Ministério da Educação, ou do marco regulatório da área de saneamento básico, do Ministério de Cidades.

Depois disso, Aldo pretende procurar parlamentares aliados e também oposicionistas para negociar uma agenda mínima de votações para o resto do ano. Palocci apresentou suas prioridades inicialmente durante reunião da Câmara de Política Econômica da qual participaram, além de Aldo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Márcio Fortes.

O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), comemorou a decisão do governo de apresentar uma proposta de agenda positiva, com temas cuja discussão pode reduzir o impacto negativo dos desdobramentos da CPI dos Correios. De acordo com o líder, a base política no Senado está acuada e desorganizada por causa do acúmulo de denúncias de corrupção na estatal. Na tentativa de buscar alternativas para melhorar a coesão dos governistas no Senado, Delcídio reuniu-se ontem com outros dois aliados do Planalto: o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), e o do PMDB, Ney Suassuna (PB).

Parlamentares governistas se queixam da falta de definição do Planalto no caso da CPI dos Correios. A maioria julga ser possível barrar as investigações, mas crê que o sucesso da operação depende de instruções precisas do governo. Para os aliados, ainda não ficou clara qual a estratégia escolhida.