Título: China anuncia veto a mudança na ONU
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Nacional, p. A9

A China classificou de "muito perigoso" o projeto de resolução sobre a ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas que os governos do Brasil, Japão, Alemanha e Índia (G-4) apresentaram no mês passado à Assembléia-Geral da organização mundial. Em entrevista à agência de notícias Associated Press, o embaixador chinês na ONU, Wang Guangya, indicou que Pequim usará seu poder de veto para barrar a iniciativa, se ela for aprovada por dois terços dos 191 países membros e levar à eleição, também por dois terços, dos quatro países autores da proposta.

Por razões históricas, ligadas principalmente à ocupação da Mandchúria pelo Japão antes e durante a 2.ª Guerra Mundial, a China opõe-se radicalmente à presença de seu vizinho asiático no CS e é o único dos cinco membros permanentes do principal órgão deliberativo da ONU que se manifestou formalmente contra a reforma.

Os Estados Unidos, Rússia, França e Inglaterra já indicaram sua simpatia, em princípio, à reforma do CS. Os americanos anunciaram apoio explícito à ascensão do Japão, oposição à pretensão da Alemanha e deixaram vaga sua postura em relação à inclusão do Brasil e da Índia. França e Inglaterra inclinavam-se a co-patrocinar o projeto de resolução do G-4 até a semana passada, quando o governo chinês pediu aos outros membros permanentes do CS que não o fizessem.

"Penso que o que foi proposto pelo G-4 é muito perigoso, no que concerne à China, e trabalharemos com outros para que isso não aconteça", disse Wang.

Ele acrescentou que a resolução dividiria a ONU e que, se o G-4 insistir em sua votação pela Assembléia-Geral, em junho, "toda a atmosfera desta casa será minada e destruída". O embaixador previu que o legislativo chinês não ratificará a reforma da ONU proposta pelo G-4, se a resolução for aprovada.

PROJETO AMEAÇADO

A atitude da China deixa o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva numa situação curiosa. Tendo escolhido a ampliação do CS e a busca de uma vaga permanente para o Brasil no órgão como prioridade absoluta de sua política externa, o presidente enfrenta agora a possibilidade de ver o projeto frustrado justamente por um dos países no qual julgava ter encontrado um aliado em sua ambiciosa e algo grandiloqüente estratégia de mudar a geografia política e econômica do mundo.

Em junho do ano passado, o chanceler Celso Amorim, ao explicar a falta de interesse do Brasil em responder aos acenos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para tornar-se membro pleno da organização, disse a seu secretário-geral, o canadense Donald Johnston, que a preferência do País é ingressar somente no contexto de uma ampliação da OCDE que abra espaço também para a entrada de China, Índia e África do Sul.

A iniciativa da China de vetar a ampliação do Conselho de Segurança da ONU perseguida pelo Brasil mostra que a recíproca não é verdadeira e que o governo chinês quer deixar a geografia política e econômica do mundo exatamente como está.