Título: Mais de 30% do País vive com meio salário mínimo, diz Ipea
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Nacional, p. A10

Sem consenso sobre os critérios que deverão definir quem são as pessoas pobres no Brasil, o governo divulgou ontem, através do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), um estudo mostrando que 53,9 milhões de pessoas, ou 31,7% da população brasileira de 2003, viviam com renda familiar de até meio salário mínimo por pessoa (R$ 120). O porcentual é levemente inferior a outros estudos elaborados pelo Ipea, que situaram como linha da pobreza o mínimo de recursos necessários para cobrir as despesas de vestuário, transporte e habitação, além da aquisição de uma cesta de alimentos com 2.100 calorias por dia.

Usando esse marco - que varia em cada Estado e em média se situava no patamar de R$ 159 mensais, em 2003 - a quantidade de pobres sobe para 57,9 milhões ou 34,1% da população. Esse porcentual, referente ao primeiro ano do governo Lula, é um pouco superior aos registrados em 2002 (32,9%) e 2001 (33,6%).

A diretora de Políticas Sociais do Ipea, Ana Peliano, admitiu ontem que o parâmetro do salário mínimo - usado no programa Fome Zero - não é o mais adequado para mensurar a quantidade de pobres, mas argumentou que a instituição não teve tempo de processar os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE para usar na publicação do Radar Social, com uma radiografia da situação social do Brasil.

O Ipea podia ter divulgado a proporção de pobres com base no valor da cesta básica por Estado, mas preferiu usar o salário mínimo para contornar as discussões internas ao governo sobre o melhor parâmetro. Até mesmo os estudos preparados pelos técnicos do Ipea apresentam números divergentes.

Em 2003, o presidente Lula criou um grupo de trabalho com integrantes do Ipea e do IBGE para redefinir o critério oficial de linha de pobreza, mas até agora os técnicos não definiram uma proposta final.

Independente dos critérios, no entanto, os diferentes estudos mostram que a proporção de pobres praticamente não se alterou nos últimos 10 anos no Brasil. Da mesma forma, os índices de desigualdade social - definidos pela diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres - também permanecem praticamente estáticos.