Título: Kissinger despreza o informante que derrubou Nixon
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Internacional, p. A16

SEM RESPEITO: O desprezo se lia claramente no rosto do ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger. "Não sinto nenhum respeito por pessoas em altos cargos que passam informação interna para a opinião pública", disse Kissinger depois da revelação de quem era o Garganta Profunda, a testemunha-chave do caso Watergate. A admissão por parte do ex-número 2 do FBI William Mark Felt de que foi a figura-chave da investigação jornalística que há mais de 30 anos levou a desvendar o escândalo de Watergate provocou ao mesmo tempo uma acirrada discussão sobre traição e patriotismo quando se ocupa um alto cargo.

Para Kissinger, assim como para o ex-comandante supremo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e ex-chefe de gabinete da Casa Branca Alexander Haig, ambos colaboradores muito próximos do presidente Richard Nixon, a revelação do segredo jornalístico mais bem guardado de Washington também pressupõe um alívio.

Em meio ao mistério de quem seria a fonte anônima, recaía também sobre eles a suspeita de terem dado, na época, as informações que acabaram provocando a renúncia de Nixon, em 1974, aos repórteres do jornal americano The Washington Post Bob Woodward e Carl Bernstein. Outros altos funcionários do governo também foram considerados suspeitos.

"Sempre tive certeza de que não poderia ser ninguém da Casa Branca. Não era nosso estilo nos reunirmos com jornalistas em garagens", ressaltou Kissinger, hoje com 82 anos.