Título: Felt se ressentia da ingerência no FBI
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Internacional, p. A16

W. Mark Felt sempre negou que fosse Garganta Profunda. "Não era eu e não sou eu", disse ele à revista Washingtonian em 1974, quando Richard Nixon renunciou, após uma extensa investigação e uma ameaça de impeachment, por causa das dicas que Felt deu ao Washington Post. Durante três décadas ele conviveu com um dos maiores segredos da história do jornalismo e seu próprio sentimento de conflito sobre o papel que tivera na queda de um presidente. Ele foi um herói por ajudar a revelar a verdade, ou um vira-casaca que traiu seu governo, seu presidente e o FBI que ele venerava, vazando informações para a imprensa?

Havia muitos motivos para ele sentir esse conflito. Era um fiel servidor da polícia federal à imagem que J. Edgar Hoover criara para o FBI em seus dias de glória - um funcionário de carreira que vivia segundo os códigos do departamento, um dos quais era a sacralidade de uma investigação e a proteção de segredos. Ele perseguiu todo tipo de violador da lei, usando todos os meios disponíveis, e foi condenado em 1980 por autorizar batidas ilegais em casas de amigos de membros de um grupo clandestino. Depois foi perdoado por Ronald Reagan.

Mas se havia razões para resistir a desempenhar o papel de fonte anônima, outros motivos o levaram a falar. Felt acreditava que a Casa Branca estava tentando frustrar a investigação do FBI sobre Watergate e Nixon estava decidido a enquadrar o FBI depois da morte de Hoover, em maio de 1972, seis semanas antes da invasão dos escritórios do Comitê Nacional Democrata no Watergate.

Felt pode ter tido uma motivação pessoal também. Por ocasião da morte de Hoover, ele era o provável sucessor à diretoria do FBI, mas a Casa Branca nomeou uma pessoa de fora do departamento, L. Patrick Gray, um promotor-geral adjunto, como diretor interino, e depois pressionou Gray para manter a Casa Branca informada sobre as descobertas do FBI.

"Como ele disse recentemente a minha mãe", afirmou seu neto, Nick Jones, 'imagino que as pessoas costumavam pensar que Garganta Profunda era um criminoso. Mas agora elas o consideram um herói '.