Título: A exuberância das exportações
Autor: CELSO MING
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, economia, p. B2

Ainda está nos ouvidos de todos quantos podem ouvir as críticas à atuação do Copom nos últimos nove meses. Em setembro e outubro, diziam que enxergava chifre em cabeça de cavalo: "Não há essa inflação apontada pelos paranóicos do Banco Central a exigir a escalada dos juros." Viu-se que havia e há inflação que ameaçava e talvez ainda ameace saltar para fora da meta.

A partir daí, as críticas concentraram-se ou sobre a "meta irrealista de inflação" de 2005 ou sobre a falta de eficácia da política de metas. "Os juros altos não têm efeito sobre o consumo, não atacam a inflação e só aumentam as despesas com a dívida pública" - diziam e alguns continuam dizendo.

Ontem, as Contas Nacionais do IBGE revelaram que, só no primeiro trimestre do ano, a demanda agregada caiu 0,6% em relação ao nível registrado no último trimestre de 2004. Agora, dizem que o Banco Central foi longe demais. Não criticam mais a força da terapia; criticam o efeito colateral adverso. Mas, se os juros funcionam e ficaram altos demais, tem-se que o efeito virá mais depressa e mais depressa poderão ser baixados.

Outro foco de reclamações contra a atuação do Banco Central é o comportamento do câmbio. Primeiro queixavam-se de que os juros altos vinham atraindo capitais que se encarregaram de empurrar o dólar para baixo e, nessas condições, de solapar o terreno das exportações. Verificou-se que não há essa cachoeira de capitais especulativos sobre o Brasil, prontos para tirar proveito dos juros altos.

A partir daí, as críticas se concentraram na falta de disposição do Banco Central de ir às compras de dólares para erguer as cotações. No entanto, apesar de ter comprado US$ 12 bilhões em menos de quatro meses, o Banco Central não conseguiu reverter a tendência à valorização do real. E, embora o dólar esteja abaixo dos R$ 2,50, as exportações ostentam uma vitalidade impressionante, como demonstram os números de maio, ontem divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento.

As exportações do mês passado foram as melhores do ano - perto dos US$ 10 bilhões. Nos cinco primeiros meses do ano, cresceram 27,9% enquanto as importações aumentaram só 22,2%. O resultado acumulado em 12 meses mostra as exportações 34,2% mais altas (no critério de média por dia útil) do que nos 12 meses anteriores, enquanto as importações avançam mais lentamente, em 32,1%.

O dado mais significativo é o comportamento das exportações de manufaturados, segmento mais vulnerável ao câmbio baixo. De janeiro a maio (inclusive), aumentaram 34,4% (no critério de média diária) sobre igual período do ano passado e equivalem a 56,4% do total exportado. Nos cinco primeiros meses de 2004, não passavam de 54,2% do total, o que demonstra que essa fatia vai aumentando.

Com um desempenho desses, fica difícil insistir em que as exportações são prejudicadas pelos juros altos e pela valorização do real diante do dólar. Em janeiro deste ano, o dólar era negociado a R$ 2,70 e o ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, abria fogo contra o Banco Central por estar travando o futuro das exportações. Terça-feira, em Paris, Furlan parecia conformado com o comportamento do câmbio interno e chegou a afirmar que "a R$ 2,70, o dólar já seria motivo para que nossos exportadores soltassem foguetes".

E é bom notar que a importação de máquinas e equipamentos continua forte. Cresceu 33,1% em maio (sobre abril) e 27,5% nos primeiros cinco meses do ano sobre igual período do ano passado. É um dado que parece demonstrar que os investimentos não estão tão parados como parece.