Título: 'Não se pode dar folga à inflação'
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Economia, p. B4

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tentou evitar, ontem, uma pressão maior por mudança na política econômica após os dados ruins sobre o desempenho da economia divulgados pelo IBGE. Ele rebateu as críticas da oposição e do chamado "fogo amigo" e defendeu a política de juros altos do Banco Central (BC), durante entrevista coletiva. Para o ministro, os dados do PIB mostram "o acerto da política monetária" no combate à inflação. Palocci afirmou que "não se pode dar folga à inflação" e, por isso, reafirmou que a meta de 4,5% para o ano que vem não será alterada. Para minimizar a desaceleração do PIB nos primeiros meses do ano, o ministro disse que dias melhores virão. No entanto, não quis se comprometer com a projeção do governo de crescimento de 4% este ano. Em vez disso, argumentou que, na política econômica, o governo não trocará "um eventual ganho de curto prazo por perda no longo prazo. Queremos um grande ciclo de crescimento".

A seguir, os principais trechos da entrevista.

INTERVENÇÃO

"Não vi nas afirmações do Azevedo (Rodrigo Azevedo, diretor de Política Monetária do BC) nada que indicasse uma intervenção no câmbio. Ele disse que o BC não se sente confortável com os níveis de reservas e poderia voltar a comprar dólares. Isso é normal, dentro do que o BC tem feito para suas reservas. Nós temos um compromisso com o câmbio flutuante. Essa é a nossa política. Não acredito que dar um valor ao câmbio seja virtuoso. Ao final, esse tipo de ação resulta num custo que é pago por toda a sociedade".

POLÍTICA CAMBIAL

"Recebo os críticos no meu gabinete, que dizem que o câmbio está muito ruim para as exportações e três meses à frente teremos uma crise no nosso comércio exterior. Esse diagnóstico de catástrofe tem sido feito na minha sala desde janeiro de 2003. Mas nada disso ocorreu. Os números mostram que o País obteve novo recorde em suas exportações agora em maio."

ATUAÇÃO DO BC

"Na minha avaliação, os resultados do PIB não questionam a atual política monetária. Ao contrário, eles mostram a correção dessa política. O seu diagnóstico das pressões inflacionárias ainda no ano passado estava correto. Os resultados mostram que o BC agiu na hora certa para atacar um problema real".

INFLAÇÃO

"O Brasil ainda tem taxas de juros altas, mas, pelas circunstâncias, também temos uma inflação alta em relação ao resto do mundo. Estamos no topo da lista. E convergir para uma inflação menor precisa de esforço continuado. Em 2003, dobramos a resistência inflacionária. Agora, o combate é mais de médio prazo. Não se trata de uma crise aguda, mas um mix de políticas que garanta que a meta volte para o patamar desejado".

AUMENTO DA META

"Toda a discussão sobre o regime de metas é aceitável. A experiência brasileira mostra que não tem sido positivo admitir um pouco mais de inflação. Acho que não devemos dar folga à inflação. Não podemos ser lenientes. Agora em junho vamos definir a meta de inflação para 2007. A princípio, não se muda a meta para 2006 (4,5%)".

CRESCIMENTO

"Estou otimista. Uma trajetória de oito trimestres de crescimento é significativa. Não podemos ver o combate à inflação como um dado ruim à realidade. A defesa do salário e da renda é fundamental e é o que garantirá um crescimento sustentável no longo prazo. Prefiro um País que combate a inflação do que um que comemore grandiosos com inflação descontrolada. Não trocaremos, na política econômica, um eventual ganho de curto prazo por perda no longo prazo. Queremos um grande ciclo de crescimento. Não trabalhamos com meta de crescimento, mas vamos ter resultados bons pela frente."

CENÁRIO EXTERNO

"Há um conjunto de determinantes no nosso crescimento que não depende apenas da gente. Mas os dados do setor externo estão mais positivos do que se esperava. Então, não devemos ter notícias ruins no front externo.Os Estados Unidos estão indo bem. A economia do Japão,, que estava com uma perspectiva ruim, teve um desempenho econômico forte. A China também."

INVESTIMENTOS

"Alguns ressaltaram a queda nos investimentos. Só que esses investimentos são os primeiros a reagir a uma política monetária restritiva. Mas são também os primeiros a reagir positivamente quando há estímulo monetário."