Título: Berzoini diz que está na hora de brecar a política monetária
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Economia, p. B4

O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, somou-se ao vice-presidente, José Alencar, e ao líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) na nova onda de ataques à política econômica, provocada pelo crescimento econômico de apenas 0,3% no primeiro trimestre deste ano. De acordo com Berzoini, já está na hora de brecar a política monetária para que ela não prejudique o cenário econômico, que ainda não é o de estagnação. "O ideal é começar a estancar a política monetária", disse o ministro, que classificou a equipe econômica como "muito dogmática".

Ele se somou ao senador Mercadante na ala dos que defendem uma meta de inflação mais elevada. "O ideal é termos uma meta de inflação mais alta", afirmou. Anteontem, quando o dado do Produto Interno Bruto (PIB) foi divulgado, Mercadante ocupou a tribuna do Senado para dizer que a queda no crescimento havia sido provocada pela política de juros altos do governo, fruto de "uma meta inflacionária irrealista".

Berzoini acha que o governo deve ficar atento, para evitar a consolidação de um quadro que ainda não é negativo. "Por enquanto a realidade desmente qualquer expectativa pessimista", ponderou. Ele lembrou que, apesar das últimas informações que anunciam uma desaceleração da atividade, muitos setores mostram dinamismo. Como exemplo ele citou as exportações, que vêm apresentando resultados positivos e crescentes apesar da taxa de câmbio. Berzoini disse também que várias empresas privadas continuam investindo, assim como o governo, e esses investimentos - especialmente na área de infra-estrutura e construção civil - darão frutos no segundo semestre.

"Não vejo um cenário assim tão negativo", afirmou. Citando dados da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), que apontam crescimento de 2,2% no nível de atividade do setor em relação ao ano passado, Berzoini disse que os sinais da economia brasileira são contraditórios. "Há setores que vão bem e outros que já estão sofrendo", observou.

O ministro também comentou a análise dos dados do mercado de trabalho divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no Radar Social, que apontou queda de 10% no nível de emprego nos últimos dez anos. Berzoini disse que a década passada foi marcada pela perda anual constante e crescente do emprego e mesmo em 2003 os postos de trabalho foram insuficientes para acompanhar o crescimento da população. "Só conseguimos reverter a curva do crescimento do desemprego no ano passado." De acordo com ele, o desafio do governo é manter essa tendência.