Título: Calote aumenta e venda enfraquece
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Economia, p. B5

Pelo segundo mês consecutivo, a inadimplência do consumidor, em maio, aumentou num ritmo maior do que a renegociação das dívidas em atraso. Isso fez acender um sinal de alerta entre os varejistas, especialmente agora, com cenário de desaceleração da economia configurado nos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. Pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) revela que, no mês passado, 376,7 mil carnês ficaram inadimplentes. Esse volume é 16% maior do que o registrado em maio de 2004. No mesmo período, o número de carnês em atraso que foram renegociados somou 271,6 mil, volume 6% acima do computado em maio do ano passado.

"Até março, o ritmo dos cancelamentos superava o dos novos carnês inadimplentes. Agora, houve um ponto de inflexão", afirma o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Ele observa que o resultado é um sinal de alerta e mostra que o consumidor está com dificuldade para quitar as dívidas.

A inadimplência líquida, que é o saldo entre os carnês inadimplentes e os renegociados em relação ao volume de vendas de três meses anteriores, atingiu em maio deste ano 7,4%, a maior marca para esse mês desde 2002, embora tenha tido um ligeiro recuo na comparação com abril (7,7%). No ano passado, a inadimplência líquida de maio foi de 5,1%.

Outra pesquisa também confirma que a inadimplência do consumidor aumentou. O Indicador Serasa de Inadimplência de abril, que reúne informações sobre cheques devolvidos, títulos protestados e dívidas vencidas com cartões de crédito, financeiras e empresas do varejo, ficou 18,2% acima do registrado no mesmo período de 2004. Na comparação com março deste ano, no entanto, o indicador caiu 2,9%.

Na análise do economista da ACSP, dois fatores explicam o aumento da inadimplência. Um deles é a elevação dos juros desde setembro de 2004. O outro é a oferta abundante de crédito, o que pode ter levado o consumidor a se endividar excessivamente.

O fato de a inadimplência crescer num ritmo superior à recuperação de crédito preocupa porque as vendas estão em desaceleração, o que, no médio prazo, pode restringir a oferta de emprego e a recuperação da renda. Números da ACSP mostram que as consultas para vendas a prazo em maio foram 5,8% maiores do que as registradas no mesmo mês de 2004. Nos negócios com cheque à vista ou pré-datado, houve acréscimo de apenas 3,2% no mesmo período. "É a primeira vez neste ano que o ritmo de crescimento de vendas nos dois sistemas ficou abaixo de 6% na comparação anual", diz Alfieri.

Por conta desse desempenho, a entidade calcula que o movimento do comércio neste ano vai crescer num ritmo ainda menor que o atual, que é de 4,5%. Até dezembro, a previsão é que o acréscimo seja da ordem de 4% ante 2004. Seguindo a tendência apontada pelos números do PIB do primeiro trimestre, a perspectiva é de que o 2.º trimestre tenha um desempenho ainda mais fraco que o primeiro, ressalta o economista.