Título: Guerra de promoções derruba o desempenho das operadoras de celular
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2005, Economia, p. B9

Nicola Pamplona RIO A polêmica que envolveu a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em torno da revisão do desempenho do setor de comunicações em 2004 expôs a situação paradoxal do mercado de telefonia móvel no País. Enquanto a quantidade de linhas em funcionamento cresceu 41,5% - o que significa, em números absolutos, acréscimo de mais de 19 milhões de aparelhos no ano -, as operadoras de celular, em guerra pela busca de novos clientes, vêem minguar receitas e lucros. O caso mais drástico, aponta estudo da Economática feito a pedido do Estado, é o da regional da Claro no Rio Grande do Sul (Telet S/A), cujo prejuízo operacional, antes de juros e impostos, aumentou de R$ 8,6 milhões em 2002, para R$ 324,3 milhões no ano passado.

Por causa da revisão, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004, que superou 5%, retrocedeu 0,3 ponto porcentual, ficando em 4,9%. Um recuo estatístico irrelevante, mas que, talvez pela simbologia, tenha causado a reação da Anatel, que se apressou em negar a revisão dos dados. O desmentido enfureceu os técnicos do IBGE. "É incompreensível, é um delírio da Anatel", disse Roberto Olinto, que coordena a pesquisa do PIB.

"A Anatel fez a revisão, nós incorporamos os dados e pronto. A revisão é procedimento estatístico normal. Como foi muito significativa, o normal é que seja incorporada nos dados", diz o técnico. Apesar da expressiva revisão do setor, de aumento de 2% para queda de 1,4%, o peso relativamente pequeno das comunicações no PIB nacional (3,5%) não causou grande estrago no saldo global.

Olinto atribui o baque à magnitude dos dados da telefonia móvel, que mudou o resultado das Comunicações no ano todo. Só Tim, Telesp Celular e Tele Centroeste Celular tiveram alta no lucro operacional em 2004: na Tim, cresceu 123,7%, o que elevou o resultado total do setor.

Uma análise no balanço das empresas do setor aponta que os custos tiveram alta significativa no ano, diz o presidente da Economática Fernando Exxel. "As operadoras tentam capturar clientes em cima de promoções agressivas, que estão afetando seus resultados", completa Eduardo Roche, analista do setor de telecomunicações da corretora Ágora Sênior. "Até 2003, as empresas queriam crescimento com rentabilidade. Em 2004, partiram para o crescimento a qualquer custo."